Sete de cada dez consumidores e
empresas que entraram na "lista negra" de maus pagadores
da Serasa em 2003 conseguiram pagar ou renegociar dívidas
e limpar seu nome, em uma proporção recorde
desde a implantação do Plano Real, em 1994.
De janeiro a dezembro de 2003, 24,1 milhões de pessoas
físicas e jurídicas entraram no cadastro de
devedores. Dessas, 17,6 milhões regularizaram sua situação.
A Serasa faz levantamento nacional de inadimplência
relativa à emissão de cheques sem fundos, protesto
de títulos, não-pagamento de cartões
de créditos e calote em financiamentos bancários.
Os 73% de regularizações observados em 2003
são inéditos no período de expansão
do crédito registrado depois do Real. O recorde anterior
havia sido obtido em 2002, quando 50% dos inadimplentes limparam
seu nome.
Apesar da baixa recorde no cadastro da Serasa, o estoque
de pessoas e empresas inadimplentes cresceu, atingindo 20
milhões, 6,5 milhões a mais que em 2002.
Os dados da Serasa têm evolução semelhante
aos da Associação Comercial de São Paulo,
que registra o movimento na capital paulista. No ano passado,
75,8% dos que deixaram de pagar carnês de crediário
regularizaram sua situação, em um total de 2,8
milhões de pessoas. Em 2002, o percentual havia sido
de 69,7%.
Os dois indicadores mostram que o consumidor se esforçou
para ter condições de voltar a comprar a prazo
neste ano, mas economistas dizem que não deve haver
uma explosão de consumo.
Carlos Henrique de Almeida, assessor econômico da Serasa,
afirma que parte da regularização do ano passado
foi feita graças a novos financiamentos, mais baratos.
Ele lembra que o crédito do sistema financeiro para
pessoas físicas subiu 14,5%, enquanto o consumo ficou
estagnado.
Além disso, o poder de compra do trabalhador diminuiu
no último ano, o que inibe a recuperação
das vendas. "O consumo só deve ter reação
mais expressiva no segundo semestre", diz Almeida.
Emilio Alfieri, economista da Associação Comercial,
afirma que o consumidor reduziu gastos e utilizou principalmente
recursos salariais para regularizar sua situação.
Pesquisa feita pela entidade em setembro indica que 71% dos
inadimplentes limparam o nome com utilização
do salário.
O economista Fábio Silveira, da MS Consult, vê
no movimento o amadurecimento do consumidor e das entidades
de financiamento.
CLÁUDIA TREVISAN
da Folha de S. Paulo
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