BRASÍLIA. O Supremo Tribunal
Federal (STF) estabeleceu ontem em R$ 19.115,19 o valor do
teto salarial para o funcionalismo público, mas abriu
uma brecha que pode pôr em xeque a economia prevista
pelo governo com a reforma da Previdência. Reunidos
para chegar a uma conclusão sobre o maior salário
recebido pela Corte, que servirá de parâmetro
para cortar os rendimentos dos servidores que ganham além
desse valor, os ministros decidiram que os jetons que alguns
recebem por exercer função também no
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não entram na conta
e poderão ser recebidos por fora. A decisão
abre a possibilidade de outras categorias reivindicarem, na
Justiça, o direito de receber as verbas de indenização
além do teto.
Apesar de ter sido criado para impor limites aos vencimentos
do funcionalismo, principalmente nos estados, o teto vai beneficiar
um grupo de servidores do Executivo federal que conseguirá
elevar seus salários. Até agora o governo vinha
limitando os vencimentos de quem recebia mais do que os ministros
de estado (R$ 8,3 mil). O limite era aplicado com base numa
lei de 1994 que era questionada na Justiça. Como o
novo teto passa dos R$ 19 mil, esses servidores terão
uma elevação salarial até esse limite
estabelecido pelo STF ontem. Estão nessa situação
cerca de 42 mil servidores.
O Ministério do Planejamento estima que a conta adicional
será de cerca de R$ 100 milhões por ano. Mas
o governo sustenta que o gasto inicial com o aumento do teto
será compensado com o fim das ações judiciais
e a redução de salários que estão
acima do teto do STF.
O valor foi fixado em sessão extraordinária
que durou quase três horas ontem. Pela proposta de emenda
constitucional da reforma da Previdência, até
que o teto seja estabelecido num projeto de lei posterior,
o maior salário do funcionalismo público não
pode ultrapassar o maior salário dos ministros do STF.
Havia dúvidas em relação ao que poderia
ser considerado o maior salário. Estava em questão,
exatamente, se deveriam ser consideradas verbas extras. Dos
11 integrantes da Corte, dez concluíram que o maior
salário é R$ 19.115,19, vencimento do presidente
do STF, incluindo nesse valor a gratificação
pelo exercício da função. Só o
ministro Marco Aurélio Mello defendeu que o teto deveria
ser estabelecido em R$ 17.343,71, valor equivalente ao salário
básico de todos os ministros mais os adicionais por
tempo de carreira, os chamados qüinqüênios.
Também chegou a ser considerada a hipótese de
o limite ser fixado em R$ 23.213,89 — valor que abrangeria
os jetons recebidos pelos três ministros do STF que,
em esquema de rodízio, exercem função
no TSE.
A decisão ficou no meio-termo. Mas abriu a possibilidade
de os ministros que também atuam no TSE continuarem
a receber os jetons, pagos por sessão realizada na
Corte Eleitoral. Em época de eleições,
quando o número de sessões é maior, os
jetons chegam a somar R$ 5.870,72, valor que é recebido
além do salário do Supremo.
O presidente do STF, Maurício Corrêa, explicou
que a maioria dos ministros entendeu que é a Constituição
que determina que ministros do Supremo atuem também
no TSE. Dessa forma, disse, o pagamento pelo serviço
extra também estaria garantido pelo texto constitucional.
"Ora, alguém pode trabalhar de graça?
É claro que cada trabalho, cada emprego, corresponde
a uma remuneração. Ninguém vai trabalhar
de graça", defendeu Corrêa.
As informações são
do jornal O Globo.
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