Conscientizar
a sociedade e, principalmente, os governantes, de que os cidadãos
têm direitos e devem ser ouvidos e respeitados, não
é tarefa fácil. E quando esses cidadãos
fazem parte de uma parcela da população que
sempre ficou à margem, como os idosos, o desafio se
torna ainda maior. São obstáculos como estes
que os gestores do Instituto Nacional Ouvidoria do Idoso vêm
enfrentando neste um ano de atuação.
A organização foi criada em fevereiro de 2004,
logo após o lançamento do Estatuto do Idoso
no mês de janeiro, com o objetivo de colocar em prática
as determinações da lei, além de incentivar
políticas públicas e estabelecer intercâmbio
entre entidades governamentais e não governamentais.
A primeira ação estabelecida pelo instituto
era subsidiar os conselhos dos idosos quanto à metodologia
da ouvidoria, além de incentivar a administração
pública da importância da criação
destes espaços.
O advogado Antonio Marques Afonso, presidente do instituto,
explica que a ouvidoria é uma das ferramentas para
atender aos cidadãos, sendo um grande sistema de informação
e atuando como suporte para a administração.
"Com o grande fluxo de informações que
temos hoje, a idéia é que o ouvidor seja o gestor
dessa informação e faça a ligação
entre os cidadãos e os órgãos responsáveis,
direcionando as manifestações da população
para aqueles que realmente possam resolvê-las. E ele
pode fazer esse direcionamento de forma rápida",
aponta.
Antonio Afonso lembra, no entanto, que este processo precisa
ser eficaz, para que os encaminhamentos surtam efeito. "Muita
gente acredita que é coisa de outro mundo, mas é
sistema simples, prático e operacional", completa.
A partir dessa conscientização, o instituto
busca identificar onde estão os conselhos dos idosos
e o que estão realizando para o bem-estar da população
brasileira com mais de 60 anos, que já soma mais de
15 milhões de pessoas.
No entanto, o processo não está sendo algo
simples. Isso porque, segundo Antonio, os conselhos, apesar
de serem criados, na prática não existem, pois
não encontram uma dinâmica para atuar. Ele aponta
a necessidade, portanto, da sociedade como um todo exigir
a formação dos conselhos para que eles possam
orientar os idosos de forma correta. Na opinião do
advogado, a população conhece ainda muito pouco
o Estatuto.
"Precisamos disseminar os benefícios dessa lei
e entender que ela vem não para atrapalhar, como alguns
apontam, mas sim para dar qualidade de vida para os cidadãos
com mais de 60 anos. Com isso, iremos oferecer melhor qualidade
de vida para os jovens também, já que hoje cerca
de 50% dos lares são mantidos pelos idosos porque os
jovens não têm emprego", comenta.
Para orientar e informar os cidadãos sobre estes
direitos o instituto conta com um site, onde são disponibilizadas
as leis criadas no país para defender o idoso, além
de contar com um espaço onde as prefeituras e os conselhos
podem se cadastrar. A idéia é integrar todos
os conselhos.
Os cidadãos podem ainda se manifestar e enviar sugestões,
denúncias ou tirar dúvidas. Neste um ano, o
site já contou com mais de 100 mil acessos, e grande
parte das questões enviadas, tanto dúvidas,
quanto reclamações, tratam de aposentadoria,
imposto de renda, habitação, saúde e
transporte.
O instituto faz o encaminhamento das manifestações
para os órgãos responsáveis, como promotoria,
delegacia do idoso, Agência Nacional de Transportes,
conselhos. Caso não exista o conselho, a organização
interage também junto à administração
local para a sua criação. A organização
está ainda estabelecendo parcerias com outras instituições,
como o Sesc, por exemplo, e a Associação Paulista
de Municípios, para fortalecer o trabalho dos conselhos
e criar ações para desenvolver o lado empreendedor
dos idosos.
"Essas pessoas precisam retransmitir o conhecimento
e experiência de vida que têm ao outros, por meio
de cooperativas, consultoria. A expectativa de vida vem aumentando
ao longo dos anos e as pessoas não querem se aposentar
e ficar o resto da vida na frente da televisão. É
preciso gerar novas oportunidades para elas", comenta
o presidente da entidade. Por isso, uma das ações
do instituto é fomentar na iniciativa privada a criação
e desenvolvimento de produtos e serviços para parcela
da população ativa.
Hoje, estima-se que as pessoas com mais 60 anos de idade
vivem com uma renda média mensal de R$ 800. Portanto,
calcula-se que cerca de R$ 8,8 bilhões mensais passam
pelas mãos dessa população, e que a perspectiva
é que esse montante chegue a 30 milhões em pouco
tempo.
DANIELE PRÓSPERO
do site Setor3
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