BRASÍLIA.
Nenhum dos candidatos aprovados pelo sistema de cotas raciais
no vestibular de 15 dos 61 cursos da Universidade de Brasília
(UnB) tirou nota suficiente para obter a vaga pelo sistema
universal. Ou seja, os cotistas vão estudar na instituição
graças à reserva de vagas para alunos pretos
e pardos que se consideram negros. Por outro lado, em seis
cursos a menor nota entre os aprovados pelo regime de cotas
superou a do último classificado pelo sistema tradicional,
o que significa que os estudantes negros não precisariam
do sistema de cotas para ser aprovados.
Em seis cursos, a maior nota de um aluno beneficiado pelo
sistema de cotas superou as notas de todos os aprovados pelo
sistema tradicional.
A estudante Kássia Roque Oliveira, de 19 anos, foi
a mais bem classificada entre todos os inscritos pelo sistema
de cotas. Ela ficou em terceiro lugar na classificação
geral do vestibular da UnB e vai cursar medicina. O primeiro
colocado no curso de engenharia mecatrônica, Ricardo
Borges Silva, também se inscreveu pelo sistema de cotas.
“Todos têm condições de acompanhar
o curso”
Em 46 dos 61 cursos do vestibular da UnB, inclusive medicina
e direito, os mais concorridos, pelo menos o primeiro colocado
entre os que se inscreveram no sistema de cotas teve nota
suficiente para dispensar o benefício da reserva de
vagas.
Os resultados do vestibular de inverno da UnB, primeira instituição
federal a adotar a política de cotas raciais, foram
divulgados ontem. Defensor da reserva de vagas para negros,
o vice-reitor da instituição, Timothy Mulholland,
disse que o resultado no vestibular não determina o
desempenho que o estudante terá ao longo do curso:
"Fizemos um estudo na UnB e constatamos que não
há correlação entre a nota no vestibular
e o desempenho no curso".
Entre os 15 cursos em que todos os candidatos cotistas só
foram aprovados por causa da reserva de vagas, no de arquitetura
e urbanismo o estudante com melhor resultado entre os cotistas
somou 107,8 pontos na escala estatística usada pela
UnB para a classificação. Esse estudante ficou
28,9 pontos abaixo da menor nota obtida no sistema geral:
136,7.
"Todos foram classificados e têm condições
de acompanhar o curso", disse o diretor-acadêmico
do Cespe, órgão encarregado do vestibular da
UnB, Mauro Rabelo.
Na medicina, o melhor colocado pelo sistema de cotas alcançou
430 pontos, e o primeiro pelo sistema universal ficou com
478,4. Já o último no regime de cotas somou
334,4, enquanto no sistema tradicional a pior média
foi 361,2. A relação candidato/vaga para medicina,
no sistema tradicional, era de 82,38 candidatos por vaga e,
pela cota, 32,86. Em direito, a relação era
de 61,4 candidatos por vaga no tradicional e 47,2 pela cota.
A UnB reservou 20% de suas vagas para negros. O candidato
devia informar se era preto ou pardo e se se considerava negro.
Na inscrição, todos foram fotografados para
evitar fraudes. Das 392 vagas destinadas às cotas,
14 não foram preenchidas: quatro delas na engenharia
civil, duas em artes cênicas (bacharelado), uma em artes
plásticas (licenciatura noturno) e cinco em música.
À exceção das vagas de música,
as demais foram aproveitadas por candidatos do sistema universal.
Kássia Oliveira, de 19 anos, considera-se parda e
cursou o ensino médio em escola pública. Foi
o seu quarto vestibular para medicina.
"Chorei e gritei ao saber o resultado. Quando a gente
quer uma coisa, tem que ir atrás. Consegui porque me
dispus a lutar pelo meu sonho", disse a jovem, que mora
em Valparaíso, cidade goiana na periferia do Distrito
Federal, é filha de um funcionário público
e de uma dona de casa e não teria como pagar a mensalidade
numa universidade particular.
O estudante Lucas dos Santos, de 20 anos, foi outro beneficiado
pelas cotas. Filho de uma cozinheira, ele é pardo e
passou no vestibular de engenharia mecatrônica. As irmãs
Ana Carolina Louzada, de 17 anos, e Alice, de 20, disputaram
vagas pelo sistema universal e não foram aprovadas.
"Sou contra as cotas. Se a pessoa quer passar, pode
buscar estudo melhor mesmo na escola pública",
disse Ana.
As informações são do jornal O Globo.
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