É
com a prestação de serviços à
comunidade (PSC), medida sócio-educativa prevista no
Estatuto da Criança e do Adolescente para punir atos
infracionais de natureza leve, que boa parte dos adolescentes
de classe média paga sua dívida com a sociedade.
Atualmente, dos 32 menores que cumprem esse tipo de pena,
40% são de famílias de camada social mais elevada.
No grupo há três garotas.
"Pitboy quase sempre presta serviço à
comunidade. O número de jovens de classe média
cumprindo esta medida cresceu bastante. No ano passado, foram
62 adolescentes e apenas 10% eram de classe média.
A culpa disso é a falta de limites por parte dos pais",
disse a chefe do Serviço de Integração
Multidisciplinar de Encaminhamento à Profissionalização
e Apoio Sócio-Educativo da 2 Vara da Infância
e da Juventude, Rita de Cássia Oliveira.
Como O GLOBO mostrou em reportagem no domingo, é cada
vez maior o número de famílias de classe média
que levam seus filhos para visitar unidades para menores infratores,
com o objetivo de evitar que eles pratiquem crimes. Este ano,
30 pais já levaram seus filhos ao Instituto Padre Severino,
na Ilha do Governador.
Vergonha
Segundo Rita, a medida sócio-educativa não
pode passar de seis meses. Os adolescentes dedicam oito horas
semanais, sem prejudicar os estudos, a alguma atividade administrativa
em postos de saúde, bibliotecas públicas, na
Assembléia Legislativa ou na Justiça, de acordo
com sua aptidão.
"A medida tem como objetivo resgatar os vínculos
com a família e com a sociedade".
Rita contou que há mais resistência por parte
dos pais de classe média do que dos próprios
adolescentes:
"Uma vez um menor me disse que o pai dele o ensinou
a não dar ouvidos a funcionário público.
Houve o caso de uma mãe que deu uma moto Honda ao filho,
que, sem habilitação, atropelou e matou um pedestre.
Essa mãe achou um absurdo que o filho pagasse pelo
que fez prestando serviços à comunidade. Agora,
ela diz que foi induzida a erro e pretende processar a Honda".
Outra história que ilustra o preconceito e a vergonha
que alguns pais de classe média sentem ao chegar à
2 Vara da Infância e da Juventude é a da mãe
que não quis ficar no corredor com outras mais pobres.
"Essa mãe me disse a seguinte pérola:“Imagina
eu, loura deste jeito, no corredor do Juizado”".
Por esse motivo, o Serviço Multidisciplinar passou
a trabalhar com os pais. No fim da medida, Rita costuma até
ouvir elogios por parte dos pais que resistiram no início
do programa.
"Uma mãe chegou a me dizer que foi importante
para o filho dela cumprir a medida de prestação
de serviço. Já houve casos até de adolescentes
serem contratados pelos órgãos conveniados",
disse Rita.
‘Não se pode passar a mão na cabeça
dos filhos’
Uma característica dos casos que envolvem adolescentes
de classe média é que o pai do menor costuma
comparecer aos programas, o que não ocorre com os menores
de baixa renda.
A mãe de um dos três adolescentes que, do apartamento
de um colega, atiraram com uma espingarda de chumbinho em
quem passava na Rua Santa Clara, em Copacabana, no dia 22
de maio deste ano, concorda com Rita. Ela disse que os jovens
precisam saber seus limites e os pais têm um papel fundamental
nisso. Quando o filho dela, de 16 anos, foi levado para a
12 DP (Copacabana), ela começou a castigá-lo
lá mesmo.
"Sou curta e grossa. Não se pode passar a mão
na cabeça dos filhos. Embora ele sempre tenha sido
um bom garoto, não podia admitir que tal ato ficasse
em branco. Bati nele para machucar, marcar mesmo. Tenho certeza
de que os meus tapas doeram mais em mim do que nele. Agora,
quero que ele responda por seus atos na Justiça. Hoje,
ele estuda, trabalha e só o deixo ficar no computador,
a paixão dele, poucas horas à noite", afirmou
a mãe, que aguarda a decisão do juiz para o
caso de seu filho.
Um processo só pode ser extinto se o menor cumprir
a medida sócio-educativa, completar 21 anos, morrer
ou o juiz entender que é impossível localizá-lo.
Entre as medidas sócio-educativas previstas no Estatuto
da Criança e do Adolescente estão a advertência,
a obrigação de reparar o dano, a prestação
de serviços à comunidade, a liberdade assistida,
a inserção em regime de semiliberdade e a internação
em estabelecimento educacional.
As informações são do jornal O Globo.
|