BRASÍLIA - Decidida a frear
a instalação da CPI da Casa Civil, a bancada
do PT no Senado decidiu ontem enfrentar os partidos de oposição
e mudou a estratégia. Em tom de ameaça, pediu
uma investigação mais ampla em torno do financiamento
de campanhas eleitorais recentes. Concentrando a ofensiva
no PSDB - ao recuperar suspeitas levantadas em torno da privatização
do setor elétrico e da origem dos recursos da campanha
de José Serra -, os petistas conseguiram azedar ainda
mais o clima no Congresso, dando fôlego à coleta
de assinaturas para a criação da comissão.
" Não vamos admitir uma investigação
pontual e isolada. Se é para trazer este assunto para
o Congresso, tem de ser amplo, geral e irrestrito, em torno
de todos os financiamentos em que pesaram suspeitas",
afirmou Ideli Salvati (SC), líder da bancada do PT
no Senado.
"O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP), levou aos colegas de bancada uma lista de episódios
ocorridos na gestão do PSDB".
"Não ressuscitamos pedidos de CPI que fizemos
no passado, mas, se formos investigar, é preciso olhar
para trás com coragem e investigar tudo", avisou.
Traçada para forjar um recuo da oposição,
a ofensiva do PT não surtiu o efeito desejado. De um
lado, PSDB, PFL e PDT elevaram o tom na defesa da CPI da Casa
Civil. De outro, o PMDB adotou posição cautelosa.
Reunidos durante almoço, os senadores da legenda decidiram
aguardar os desdobramentos das investigações
da Polícia Federal antes de rejeitar a idéia
de uma CPI para investigar denúncia de prática
de corrupção e tráfico de influência
envolvendo o ex-subsecretário de assuntos parlamentares
da Casa Civil, Waldomiro Diniz.
"Podem investigar as teles, o Serra, ou o melhor, investiguem
a Ruth Cardoso. Não vou brecar coisa alguma. Nunca
fui herói de CPI, mas vamos continuar coletando assinaturas
para investigar o caso Waldomiro", reagiu o líder
do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
Controlada até a noite da segunda-feira, a ofensiva
da oposição ganhou fôlego ontem em decorrência
de trapalhadas do PT. Divididos quanto à conveniência
da instalação de uma CPI para apurar os deslizes
de Waldomiro, setores do PSDB admitiam negar assinatura a
requerimento defendido por um colega de bancada. Ao menos
três senadores da sigla estavam decididos a rejeitar
a CPI, mas mudaram de idéia diante dos ataques petistas
a figuras do partido.
Causaram especial irritação as declarações
do presidente nacional do PT, José Genoino, atribuindo
a José Serra, presidente nacional do PSDB e candidato
derrotado na disputa presidencial, a autoria do dossiê
contra Waldomiro. A gota d'água caiu ontem, quando
senadores petistas deixaram a reunião ameaçando
reabrir o caso Ricardo Sérgio e investigar a fundo
a privatização das estatais do setor elétrico.
Qualificando a atitude do PT como chantagem política,
tucanos renitentes cogitavam mudar de atitude. Declarações
desencontradas de petistas mudaram o clima também no
PFL.
Mapeamento feito pela liderança do PSDB indica que
o requerimento para a criação da CPI da Casa
Civil conta com 22 assinaturas. Autor do pedido, o senador
Antero Paes de Barros (MS) teve a garantia do apoio de outros
cinco colegas. Nos próximos dias, pode alcançar
as 27 rubricas necessárias. Apesar dos desencontros
de ontem, políticos influentes no Congresso avaliam
como improvável a instalação da CPI.
Às vésperas de eleições municipais,
uma investigação desta natureza afastaria os
tradicionais financiadores de campanhas eleitorais.
Divididos, os parlamentares do PMDB decidiram aguardar o
desfecho das investigações. O partido não
assinará o requerimento por enquanto, mas estuda defender
apurações pelo Congresso no caso do surgimento
de fatos novos. Líder da bancada no Senado, Renan Calheiros
(AL) tem encontrado dificuldades para controlar os dissidentes.
Ontem, liberou o apoio do senador Pedro Simon (RS), caso falte
à oposição uma assinatura para instalar
a comissão. Simon fizera discurso no plenário
defendendo as investigações.
A cautela do PMDB se sustenta na possibilidade do surgimento
de fatos novos envolvendo o ex-assessor do chefe da Casa Civil.
Abortar uma CPI antes das conclusões da Polícia
Federal, avaliaram os peemedebistas, seria arriscado. Calheiros
chegou a sugerir a divulgação de uma nota oficial
reiterando o apoio ao Planalto e rejeitando a CPI, mas foi
convencido pelos colegas a esperar.
As informações são do Jornal do Brasil.
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