As ações do ex-subchefe
de assuntos parlamentares do Palácio do Planalto Waldomiro
Diniz, que ocupou o cargo de janeiro de 2003 até a
última sexta-feira, serão investigadas pelo
governo. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz
Bastos, disse que a gestão de Waldomiro deverá
ser apurada por uma questão de prudência. A investigação
não será só administrativa: terá,
segundo o ministro, a participação da Polícia
Federal e do Ministério Público Federal. A PF
deverá interrogar Waldomiro nos próximos dias
e pode pedir a quebra do sigilo do telefone usado por ele
no Planalto. Deverão ser rastreadas também as
ligações do ex-assessor do Planalto durante
sua gestão na presidência da Loterj, em 2002,
segundo o delegado César Nunes, responsável
pelo inquérito sobre o pedido de propina de Waldomiro
ao bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
"É uma investigação que se reveste
da cautela necessária ao administrador público",
disse Thomaz Bastos. "Com todo esse estrépito,
com todo esse alarido, com todo esse impacto que o caso provocou,
é de toda conveniência que o governo faça
essa investigação".
"Vai ser investigada a conduta dele em razão
do cargo que ocupava. Se em razão do cargo ele tiver
efetivamente praticado algum delito, nós vamos ouvir
as pessoas, vamos procurar identificar tudo", disse o
delegado.
Ontem, a assessoria do Ministério da Coordenação
Política divulgou nota dizendo que o substituto de
Waldomiro se encarregará de levantar as atividades
do ex-assessor.
"O governo vai repassar todos os atos de Waldomiro.
Eu mesmo enviei aos assessores uma carta pedindo que denunciem
se souberem de qualquer irregularidade", disse o líder
do PT no Senado, Aloizio Mercadante (SP).
Após audiência com Mercadante, Bastos rechaçou
as críticas à Polícia Federal, negando
que tenha havido lentidão no cumprimento do mandado
de busca e apreensão na casa de Waldomiro. Segundo
ele, a pressa não pode comprometer o sucesso da operação:
"A investigação está sendo feita
de comum acordo entre o Ministério Público e
a Polícia Federal. Uma busca e apreensão determinada
no sábado ter sido cumprida na segunda-feira não
é uma demora pelos padrões brasileiros. Essas
operações têm de ser feitas com planejamento
sob pena de se frustrarem. Pegou de surpresa todos os que
foram objeto da operação".
Fitas
Bastos disse ainda que as circunstâncias em
que as fitas nas quais Waldomiro aparece negociando o pagamento
de propina foram gravadas também serão investigadas.
Ele afirmou que saber como elas chegaram ao senador Antero
Paes de Barros (PSDB-MT) “faz parte do conceito de amplitude
que vamos dar à investigação”.
Bastos acrescentou que seria possível punir quem guardou
as fitas baseado no direito penal.
Já o delegado disse que Waldomiro poderá ser
ouvido durante o carnaval. O ponto de partida do interrogatório
será a fita de vídeo. Antes do depoimento, o
delegado pretende pedir à Justiça Federal cópias
dos depoimentos dos bicheiros Messias Ribeiro e Carlos Roberto
Martins. Em interrogatório no Ministério Público
Federal no dia 7, em Brasília, os dois falaram sobre
supostas relações de Waldomiro com Cachoeira
e com o espanhol Alejandro Ortiz, acusado de envolvimento
com a máfia italiana.
Nunes sustenta que, se for preciso, pedirá a quebra
do sigilo bancário, fiscal e telefônico de Waldomiro.
O delegado disse que o inquérito vai apurar, inicialmente,
crime eleitoral, financiamento de campanhas e, em tese, corrupção
ativa e passiva, enquanto o Ministério Público
investiga lavagem de dinheiro:
"A PF realizou busca em diversas cidades a pedido do
Ministério Público. É um procedimento
criminal que visa a apurar lavagem de dinheiro e é
diferente de nossa investigação. Vamos apurar
crimes eleitorais, financiamento de campanhas em 2002, corrupção
ativa e corrupção passiva. Podemos desmembrar
o inquérito em dois procedimentos, em razão
da especificidade da Justiça Eleitoral. Se outros dados,
outros indícios indicarem, podemos instaurar outros
inquéritos para apurar lavagem de dinheiro ou qualquer
delito que apareça".
O Ministério Público Federal no Rio investiga
Waldomiro por crime contra a administração pública
e lavagem de dinheiro desde 9 de fevereiro. O caso ficará
sob a responsabilidade da 5 Vara Federal Criminal, especializada
em casos de lavagem de dinheiro.
As informações são do jornal O Globo.
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