O governo conseguiu ontem enquadrar a bancada do PT no Senado, primeiro movimento
que dificulta bastante a abertura de uma CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito) para investigar o caso Waldomiro
Diniz.
Enquanto unificou o discurso dos petistas e dos aliados contra
a CPI, o governo obteve vitórias pontuais, mas importantes.
O PFL do Senado liberou a sua bancada de 17 senadores. Ou
seja, o governo poderá pescar votos pefelistas para
evitar a instalação da comissão, especialmente
no grupo de Antonio Carlos Magalhães (BA) e Roseana
Sarney (MA).
Já o PSDB (11 senadores) recomendou voto pró-CPI,
mas não fechou questão -isso dá margem
a negociações do governo com setores tucanos.
Na reunião, os senadores Tasso Jereissati (CE) e Siqueira
Campos (TO), que têm boa relação com Lula,
manifestaram-se contra a CPI.
A prioridade do governo foi acabar com a dubiedade da bancada
de 13 senadores petistas. Essa estratégia foi fechada
em almoço ontem do presidente do PT, José Genoino,
com os líderes do governo no Senado, Aloizio Mercadante
(SP), do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), e do PT na Câmara,
Arlindo Chinaglia (SP). Também participou o ex-líder
do PT no Senado Tião Viana (AC), que havia apoiado
a investigação.
"O PT não dará as assinaturas para a CPI",
disse Genoino. Após o almoço, ele foi conversar
com o senador Eduardo Suplicy (SP), defensor da CPI. Genoino
fez apelo para que Suplicy fique com a bancada, que adiou
reunião de ontem para hoje a fim de ter tempo de articular
o fechamento de questão contra a CPI.
A estratégia do PT é, ao enquadrar a bancada
no Senado, evitar a CPI, que precisa de 27 adesões
(um terço da Casa, segundo o regulamento) para ser
instalada. O enquadramento levará o PMDB, que se reúne
hoje, a não apoiar a CPI. Dos 23 senadores do PMDB,
só Mão Santa (PI) assinou a CPI. O governo avalia
que, sem PT e PMDB, mais setores do PSDB e do PFL, conseguirá
deixar a lista de apoios na casa dos 20 votos, insuficientes
para abertura da CPI.
Os argumentos usados pelo governo são de que os fatos
dizem respeito a um episódio de 2002. A fita de vídeo
mostra Diniz, homem da confiança de Dirceu, pedindo
propina e contribuição de campanha a um empresário.
Na época, Diniz era presidente da Loterj (Loteria do
Estado do Rio de Janeiro). Depois, virou auxiliar de Dirceu
na Casa Civil, onde cuidava da relação com Congresso.
Diniz foi demitido na sexta, com a divulgação
do caso. Sem relação com o governo Lula, a CPI
seria uma ofensiva do PSDB para desestabilizar o governo.
Os tucanos negam. Renan Calheiros (PMDB-AL) mostrou preocupação
com os efeitos da CPI para o país. Já o senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) defendeu Dirceu.
No Rio de Janeiro, líderes das bancadas da Assembléia
Legislativa se reúnem hoje para discutir a instalação
de uma CPI para apurar a gestão de Diniz na Loterj.
O deputado estadual gaúcho Carlos Eduardo Vieira da
Cunha (PDT) disse que pretende reabrir a CPI que investigou
a ligação do governo petista de Olívio
Dutra (1999-2002) no Rio Grande do Sul com o jogo do bicho.
FERNANDA KRAKOVICS
RANIER BRAGON
KENNEDY ALENCAR
da Folha de S. Paulo, sucursal de Brasília
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