Se você
está planejando visitar o Brasil, tome muito, mas muito
cuidado. Em linhas gerais, essa é a mensagem passada
pelos governos de alguns dos principais países desenvolvidos
nos alertas que fornecem aos turistas que pretendem viajar
para grandes cidades brasileiras, como Rio e São Paulo.
Tráfico e uso crescente de drogas, violência
sexual, assalto a mão armada, roubos em táxis,
seqüestros relâmpagos, indivíduos que apóiam
organizações terroristas e vários tipos
de golpes.
Esses são alguns dos problemas citados nas páginas
de orientação aos turistas, mantidas por ministérios
de relações exteriores de países como
França, Reino Unido, Austrália, Canadá
e EUA.
Embora nem o Brasil nem nenhuma cidade do país conste
das relações de lugares que não devam
ser visitados elaboradas pelos ministérios, a lista
de possíveis perigos no país chama a atenção
pela sua extensão e diversidade.
Em alguns casos essas listas até aumentaram. Cópia
da página da internet do governo britânico de
setembro de 2002, obtida pela Folha, mostra que não
se falava em violência sexual no país naquela
época. Já a página atual diz que algumas
"agressões sexuais têm sido registradas
em áreas turísticas costeiras". O governo
da Austrália apresenta a mesma advertência.
O governo britânico também passou a destacar
o perigo de incidentes, mesmo em destinos que "pareçam
seguros". Nas páginas de alguns países,
os seqüestros relâmpagos passaram a ser citados.
Rio
O Departamento de Estado norte-americano passou a
falar, em sua página, de indivíduos que apóiam,
financeiramente, organizações terroristas. Em
relação ao Rio, alerta para os possíveis
problemas decorrentes de tentativas de "chefões
das drogas encarcerados para exercer seu poder".
Um funcionário do governo francês disse à
Folha que, de forma geral, o conteúdo das instruções
dadas aos turistas que planejam ir ao Brasil não mudou
-mas o tom, sim.
Ele explica que o governo tem a obrigação de
transmitir aos cidadãos a "percepção
do aumento da violência".
Essa mudança de tom é percebida logo no parágrafo
de abertura dos chamados "conselhos gerais de segurança",
que destaca, em negrito: "Uma grande prudência
é, de agora em diante, requerida dos viajantes que
forem ao Rio."
São Paulo também tem seu quinhão de perigos,
segundo os sites internacionais. O governo dos EUA afirma
que há "registros regulares de jovens mulheres
que jogam sedativos nas bebidas dos homens para roubarem todos
os seus pertences enquanto eles estiverem inconscientes".
Os governos também fornecem conselhos práticos.
Pedem que viajantes não reajam em caso de roubo, ressaltando
que o agressor pode estar armado, e orientam até sobre
a quantia de dinheiro aceitável para um assaltante.
"Não estamos dizendo para as pessoas não
irem ao Brasil. A intenção é pedir que
sejam mais cautelosas", disse um porta-voz do Ministério
de Relações Exteriores da Grã-Bretanha,
que diz em sua página que a maior parte das idas ao
Brasil ocorre sem problemas.
"The Independent"
As orientações aos turistas refletem,
segundo analistas, a percepção do problema crescente
da violência no país pelos governos, organizações
e órgãos de imprensa estrangeiros. Uma medida
dessa visão foi dada, na última semana, por
uma reportagem do jornal britânico "The Independent"
sobre o Rio, cujo título era "A cidade da cocaína
e da carnificina".
"Muitas vezes quando ouvimos falar algo do Brasil em
outros países, pensamos "não é bem
assim". Mas esse artigo do "Independent" mostra
uma realidade", diz Francesco Panizza, professor da LSE
(London School of Economics and Political Sciences), especializado
em América do Sul. Para Panizza, os conselhos dos governos
aos turistas vão na mesma linha: alertam para perigos
reais.
"O governo brasileiro não tem tido estratégia
para combater a violência, e essa inação
só faz a situação piorar. O Rio tinha
de ser a capital do turismo mundial, mas a violência
crescente não deixa."
Segundo Dan Platt, pesquisador de Brasil na Anistia Internacional,
o destaque dos problemas de violência no exterior pode
ter efeito positivo. "Muitas vezes o carioca fica cego
ao problema da violência nas favelas até que
esta chegue às praias. Esse tipo de destaque, talvez,
force a sociedade a se mobilizar mais e o governo a agir."
ÉRICA FRAGA
da Folha de S.Paulo
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