BRASÍLIA.
Vinte e cinco anos depois que o então ministro extraordinário
da Desburocratização, Helio Beltrão,
revolucionou a burocracia do serviço público,
o atual governo promete retomar o projeto. Porém, diante
da tarefa gigantesca, o esforço ainda é tímido,
desarticulado e restrito a alguns setores da administração
pública.
O diretor do Programa de Desburocratização,
Paulo Daniel Barreto, do Ministério do Planejamento,
diz que a proposta do governo tem dois eixos: um direcionado
ao serviço público, envolvendo normas e procedimentos
para o atendimento da população, e outro voltado
para melhorar a vida das empresas e o funcionamento da economia.
”O que a gente tem hoje não difere da proposta
de Helio Beltrão. O grande esforço é
mexer no espaço do poder, ir mudando a força
irreverente da burocracia que está arraigada na mentalidade
da população”, diz Barreto.
Ele destaca que o governo reduziu de 250 para sete as normas
da Previdência para a concessão de benefícios
e aposentadorias. Também facilitou a importação
de 1.600 máquinas e equipamentos que dependiam de licença
prévia, procedimento burocrático que consumia
60 dias até a liberação aduaneira.
Mas é na redução da papelada de abertura
de empresas, passo decisivo para o crescimento econômico,
que o governo patina. Quase dois anos, desde a posse do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, não foram suficientes
para a criação do grupo interministerial encarregado
de enfrentar essa burocracia. Estudo do Banco Mundial mostrou
que a abertura de empresa no Brasil leva em média 152
dias. Nos Estados Unidos, são cinco.
”Para ter um alvará na parede, é preciso
passar por uma montanha de instituições e órgãos
públicos, inclusive o Corpo de Bombeiros. Cada um tem
uma regra e uma documentação”, admite
o secretário de Desenvolvimento da Produção
do Ministério do Desenvolvimento Indústria e
Comércio Exterior (MDIC), Carlos Gastaldoni, responsável
pela coordenação das juntas comerciais do país.
Sebrae
Segundo ele, o primeiro passo será a criação
de um formulário único reunindo todas as informações
que os diferentes órgãos exigem. Assim, em vez
de peregrinar por repartições federais, estaduais
e municipais, o candidato a empresário levará
seus dados e toda a papelada a um só local.
Segundo o ministério, dependendo do tipo de empresa,
a documentação exigida hoje pode envolver até
23 órgãos. Pior: como as certidões têm
prazo de validade, muitas vezes a que foi retirada primeiro
vence antes que o empresário consiga pôr as mãos
na última.
Enquanto isso, o Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) tenta criar atalhos. Dezesseis
estados já contam com Centrais de Atendimento Fácil,
onde foram reunidos os principais órgãos envolvidos
na abertura de empresas. Quem recorre a esse serviço
consegue virar empresário em 25 dias úteis,
segundo o gerente de Orientação Empresarial
do Sebrae no Distrito Federal, Ary Ferreira Júnior.
DEMÉTRIO WEBER
VALDEREZ CAETANO
do jornal O Globo
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