Algumas
colheres de consciência ambiental, uma pitada de vontade
de ajudar os menos favorecidos e expectativa de ganhar dinheiro
a gosto. Essa parece ser a receita que fez os condomínios
chegarem ao segundo lugar no ranking de coleta de latinhas
de alumínio para a reciclagem, superando os depósitos
de sucata, que ficaram com a terceira posição.
No pódio, casas e prédios residenciais e comerciais
de classe média, média alta e até de
alto padrão estão agora abaixo apenas das cooperativas
e centrais de triagem de lixo operadas por catadores de rua,
em geral pessoas que foram empurradas para esse tipo de atividade
pela crise econômica e pelo desemprego.
O quadro é traçado por pesquisa da Tomra Latasa,
empresa responsável por 36% do reaproveitamento de
alumínio no país.
Para chegar a ele, foram confrontados os cadastros dos mais
de 12 mil clientes que venderam latinhas para as 14 filiais
da empresa em 22 Estados no país, em 2000 e 2002. Os
percentuais foram, então, extrapolados estatisticamente
para o Brasil, a partir de informações mais
gerais de reciclagem, reunidas pela Abal (Associação
Brasileira do Alumínio).
O resultado da comparação mostra que, se em
2000 os condomínios respondiam pela origem de 10% das
latas que eram recicladas, o percentual subiu para 16% dois
anos depois -um aumento de 60% na participação
no bolo do reaproveitamento.
Enquanto isso, os sucateiros (que compram o material de terceiros
para depois revendê-lo) reduziram sua contribuição
de 19% em 2000 para 13% em 2002 -uma queda de 31,5%. Os catadores,
por sua vez, mantiveram a "medalha de ouro", aumentando
o envio de latinhas para a reciclagem de 43% para 48% do total.
A consolidação da liderança e a perda
de espaço dos sucateiros é atribuída
pela Tomra Latasa à maior organização
dos catadores.
Consciência e lucro
Ao avaliar as possíveis causas da ascensão
dos condomínios no comércio de latinhas de alumínio,
o diretor-presidente da empresa de reciclagem, José
Roberto Giosa, afirma que, por um lado, "a venda do material
reciclado é alternativa de receita para redução
das taxas e ampliação de benefícios para
os funcionários" dos prédios.
Isso reflete, em parte, o empobrecimento da classe média
brasileira e a busca por fontes extras de dinheiro ou formas
de cortar custos, além de consolidar o potencial de
bom negócio por trás da venda das latinhas,
avalia.
O valor médio pago por 1 kg, ou 75 latas, varia de
R$ 2,4 a R$ 3,2.
Giosa defende, no entanto, que, além do pragmatismo
econômico, existe uma crescente consciência ambiental
por trás da maior participação de setores
mais ricos da sociedade no mercado da reciclagem. "As
pessoas começam a se sentir incomodadas de jogar algumas
coisas fora. É uma revolução silenciosa
que poucos estão percebendo."
"A verdade é que o que começa muitas vezes
por uma vontade de lucrar acaba virando um hábito e
cria a consciência", sustenta a gerente do Departamento
de Meio Ambiente da administradora de condomínios Hubert,
Nathalie Gretillat. Ela ajudou a implantar a coleta seletiva
em 65 dos 300 edifícios gerenciados pela empresa.
Supermercados
Além da perspectiva de ganhar algo com a venda
das latinhas, outro elemento que ajuda a "reforçar"
a consciência ambiental é a facilidade na hora
de entregar o material para a reciclagem.
À união dos dois fatores Giosa atribui o crescimento
da contribuição dos supermercados na coleta
do material -que passou de 7% em 2000 para 10% em
2002.
Muitos deles, a exemplo da rede Extra, do Grupo Pão
de Açúcar, trocam latinhas de alumínio
e garrafas plásticas por vales que podem ser usados
nas compras. A R$ 0,03 por lata e R$ 0,02 por garrafa, é
preciso trocar 43 latinhas, por exemplo, para comprar 1 kg
de arroz. Por outro lado, as lojas são locais que ficam
abertos muitas vezes 24 horas por dia, e dispõem de
acesso fácil e seguro.
Entre maio e dezembro de 2003, o projeto do Extra coletou,
em todo o país, mais de 7 milhões de embalagens
plásticas e 2 milhões de latas de alumínio.
Em três anos, o número de máquinas para
receber as embalagens passou de 40, instaladas em 11 lojas
apenas na região metropolitana de São Paulo,
para 120 equipamentos em 32 lojas nos Estados de São
Paulo e do Rio de Janeiro, além de nas cidades de Salvador,
Brasília e Belo Horizonte.
MARIANA VIVEIROS
da Folha de S.Paulo
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