Apesar de ter um sistema público
universal de saúde, a maior parte do gasto na área
no Brasil não é feita pelos governos. Relatório
da Organização Mundial de Saúde (OMS)
divulgado ontem indica que de todo o gasto com saúde,
apenas 41,6% são de recursos públicos. O restante
(58,4%) é dinheiro privado, o que inclui despesas de
pessoas e empresas com planos de saúde, exames, consultas
e remédios.
Mais do que privado, boa parte das despesas em saúde
dos brasileiros sai mesmo do próprio bolso. A OMS mostra
que, dentro do gasto privado (58,4%), 64% são de recursos
que a organização classifica de out-of-pocket
— ou direto do bolso. É dinheiro que a população
tira do orçamento doméstico para os gastos com
saúde.
Em alguns países desenvolvidos, como Suécia
e Dinamarca, o gasto privado é muito baixo comparado
com o público. O gasto privado na Dinamarca é
de 17% e na Suécia, de 14,8%. Ou seja, proporcionalmente,
os brasileiros gastam mais da sua renda familiar com saúde
que um sueco ou um dinamarquês.
O acesso universal à saúde é o principal
tema do relatório e uma das metas da OMS. O Brasil
aparece como um país que, ao mesmo tempo em que obteve
sucessos em várias áreas, ainda precisa melhorar
o atendimento universal. A erradicação da poliomielite,
no início da década de 80, é lembrada.
Assim como o programa brasileiro de Aids e o orçamento
participativo da Prefeitura de Porto Alegre.
O relatório lembra que o Brasil foi um dos primeiros
a iniciar a distribuição gratuita de medicamentos
para Aids. Com isso, a doença, que era um problema
das famílias, se tornou uma questão público.
O estigma diminuiu e o tratamento foi facilitado. O orçamento
participativo, iniciado há mais de dez anos em Porto
Alegre, é considerado modelo para dar mais poder à
população de opinar sobre suas necessidades.
São feitas reuniões nas comunidades, que informam
a prefeitura os investimentos que acham mais necessários.
Apesar das experiências positivas, o Brasil é
apontado como o país da América do Sul que gasta
o menor percentual de seu orçamento total com saúde
(veja o quadro ao lado).
A OMS também mostra preocupação com
o atendimento de saúde, especialmente nos países
mais pobres. Apesar de a expectativa de vida ter aumentado
na maioria dos países nos últimos 50 anos, a
Aids e a pobreza crescentes têm feito países
regredirem, especialmente na África Subsaariana. Associadas
à Aids, doenças de tratamento simples, como
diarréias e infecções respiratórias,
continuam matando.
O relatório mostra ainda que os brasileiros perdem
cerca de 8 anos de vida saudável por causa de doenças
evitáveis ou controláveis decorrentes de males
endêmicos e falta de saneamento. O cálculo leva
em conta a expectativa de vida, a mortalidade infantil e os
riscos para a saúde.
LISANDRA PARAGUASSÚ,
do Diário de S.Paulo
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