SÃO PAULO. Nos últimos
dez anos, o desemprego cresceu mais entre as famílias
da classe alta, mas ainda são os mais pobres os mais
atingidos pelo problema. Estudo divulgado ontem pela Secretaria
de Trabalho de São Paulo mostra que a taxa de desemprego
das famílias mais ricas passou de 2,6% em 1992 para
3,9% em 2002 — uma alta de 50%. A população
de escolaridade elevada também sofre com o resultado
do baixo crescimento econômico do país.
Um dado revelador dessa nova situação é
o expressivo crescimento de 87,4% do número de desempregados
na classe alta, entre 1992 e 2002, passando de 232 mil para
435 mil pessoas. No total, a taxa de desemprego geral do país
cresceu 40% no período, passando de 6,7% para 9,3%
da População Economicamente Ativa (PEA), e o
número de pessoas desempregadas subiu 73%.
"A maior pressão pela procura de trabalho nos
níveis mais altos de renda se deve à queda do
rendimento da família dessa classe. Outros integrantes
dessas famílias, que antes não procuravam emprego,
passaram a buscar uma ocupação", disse
o secretário do Trabalho, Márcio Pochmann, coordenador
do estudo.
A pesquisa considerou de classe baixa as famílias
com rendimentos de até R$ 652 por mês. Ficam
na classe média os que têm renda até R$
2.600. Na classe alta estão as famílias que
recebem mais que R$ 2.600 por mês.
Embora a taxa de desemprego da classe baixa tenha subido
46,8% entre 1992 e 2002, passando de 9,4% para 13,8% da PEA,
os pobres ainda são a grande maioria dos desempregados:
4,8 milhões de pessoas no país. A classe média
tem 2,5 milhões de pessoas sem emprego, de acordo com
o IBGE. Para esse segmento, a taxa de desemprego subiu menos,
de 5,3% para 6,6% da PEA, numa alta de 24,5%.
"O fato de o desemprego estar crescendo mais entre os
ricos não significa que está se concentrando
nessa classe. Cresce para todo mundo, mas num ritmo diferenciado",
explica Pochmann.
A situação não é mais tranqüila
para aqueles que estudam mais, uma vez que a maior alta na
taxa de desemprego, de 1992 para 2002, ocorreu para aqueles
que têm 14 anos de estudo. O índice para o segmento
da população com nível universitário
cresceu 76,9%, de 3,5% da PEA para 6,2%.
"Hoje não há qualquer segmento imune ao
desemprego", disse o secretário.
Mais uma vez, os pobres são os mais afetados, mesmo
que tenham estudado mais. No grupo dos brasileiros que têm
15 anos de estudo (nível universitário), a taxa
de desemprego dos pobres chega a 26,7%, ou seja, 11,6 vezes
mais que a registrada para os ricos com a mesma escolaridade,
cujo índice é de 2,3% da PEA.
Relacionamento torna-se tão importante quanto
estudo
Essa grande diferença entre dados de desemprego
para pobres e ricos mostra que não basta estudar para
conseguir uma ocupação:
"Aumenta a importância do relacionamento para
a obtenção do emprego. O pobre, mesmo tendo
às vezes o mesmo nível de escolaridade do rico,
não tem os contatos dessa classe social", diz
Pochmann, acrescentando que, além do preconceito racial,
a maior concorrência por uma vaga agrava o preconceito
de classe.
As taxas de desemprego, de uma maneira geral, elevaram-se
num ritmo mais rápido justamente para os níveis
de maior escolaridade. Entre os pobres, o índice é
maior para quem tem nove anos de estudo (27,4% da PEA). Atinge
13,3% para classe média com nove anos de estudo, também
a maior alta, e 11% entre os ricos com 12 anos de estudo.
As informações são
do jornal O Globo.
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