O governo resolveu se antecipar a surpresas no caso Waldomiro Diniz, ex-subchefe
de Assuntos Parlamentares da Presidência que pediu propina
e contribuições para campanhas eleitorais em
2002, e já afirma que é "provável"
que o ex-assessor tenha tentado fazer tráfico de influência
enquanto atuava na Casa Civil.
Ontem, o líder governista no Senado, Aloizio Mercadante
(PT-SP), disse que "o governo trabalha com a hipótese"
de Waldomiro "ter tentado interferir politicamente em
decisões do governo" quando era subchefe de Assuntos
Parlamentares da Casa Civil. "Até o momento não
existe indício de conduta irregular [do Waldomiro]
no governo federal, mas acho provável que exista. É
possível que tenha usado o cargo para favorecer alguém,
mas ele não tinha poder de decisão. Não
lidava com orçamento, não tinha verba."
A Folha apurou que a cúpula do governo teme novas
revelações sobre o caso já envolvendo
Waldomiro no tempo em que foi um dos principais auxiliares
do ministro da Casa Civil, José Dirceu. Waldomiro cuidava
da relação com o Congresso. Trabalhou com Dirceu
até janeiro, quando, na reforma ministerial, sua seção
foi transferida para a recém-criada Secretaria de Coordenação
Política e Assuntos Institucionais.
Chegaram ao Planalto rumores de que Waldomiro se envolveu
com lobistas do bingo e da multinacional de informática
GTech. Isso deve mudar a linha de defesa do governo, que afirmava
que Diniz só cometera ato desabonador antes do início
do governo Lula.
A resposta do Palácio do Planalto será dizer
que na posição de quem cuidava da relação
do governo com Congresso seria normal Waldomiro lidar com
lobistas. O importante, argumentará o governo, é
saber se ele fez o lobby e se contrariou o interesse público.
No caso da GTech, o governo dirá que o acordo fechado
não teve nada de ilegal ou desvantajoso, pois se obteve
desconto de 15%.
Mercadante se reuniu ontem no Planalto com Dirceu e Márcio
Thomaz Bastos (Justiça), separadamente. Conversou ainda
com o ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política),
a quem Waldomiro havia passado a se reportar, e com o líder
do governo na Câmara, Miro Teixeira (sem partido-RJ).
"Depois de ver aquela cena, eu posso não duvidar
de ilícitos no governo federal", afirmou Mercadante.
Ele se referia à fita em que Waldomiro aparece cobrando
propina do empresário de bingo Carlos Augusto Ramos,
o Carlinhos Cachoeira, em 2002, quando era presidente da Loterj
(Loteria do Estado do Rio de Janeiro).
Negando que o governo tenha sido omisso no caso até
a fita de vídeo ser divulgada, Mercadante distribuiu
ontem ofícios encaminhados por Waldomiro a Dirceu,
Thomaz Bastos e ao corregedor-geral da União, Waldir
Pires, no dia 4 de julho de 2003, defendendo-se das primeiras
acusações veiculadas pela revista "Isto
É".
"Caso fossem verdadeiras as acusações
maledicentes a mim dirigidas, estaríamos diante de
prováveis ilícitos criminais e funcionais, bem
como diante da existência de corrupção
no âmbito da Caixa Econômica. Por essa razão,
requeiro a Vossa Excelência a gentileza de tomar as
medidas que julgar cabíveis e necessárias para
apurar o que ali se encontra afirmado", alegou Waldomiro.
Segundo a revista, haveria investigação do
Ministério Público sobre a exploração
de máquinas caça-níqueis envolvendo o
ex-subchefe, que teria beneficiado a GTech em renovação
de contrato com a Caixa Econômica Federal.
Mercadante não soube informar se o governo atendeu
o pedido de Waldomiro e o investigou.
FERNANDA KRAKOVICS
KENNEDY ALENCAR
da Folha de S. Paulo, sucursal de Brasília
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