As grandes
redes varejistas não vão aumentar os juros ao
crediário neste ano, mesmo com o aumento na Selic -a
taxa básica do mercado que influencia toda a atividade
econômica do país. A estratégia adotada
foi outra, mas, de forma indireta, terá efeito no valor
pago pelo produto.
Explica-se: para reduzir o custo financeiro da alta na taxa,
há redes que mudaram a composição da
cesta de produtos e dos prazos de pagamento, apurou a Folha.
Ampliaram os prazos de venda dos eletroeletrônicos neste
mês e mudaram a categoria em que as mercadorias estavam
inseridas na tabela de juros da loja. Por exemplo: se antes
100 itens eram comercializados com taxa de 3% ao mês
e 150 com taxa de 2%, agora só 50 terão a taxa
menor.
Sutileza não é notada
São mudanças sutis, que o consumidor
não percebe. No entanto o resultado dessa equação
encarece o produto vendido a prazo. Parte do custo financeiro
sentido pela loja após a alta da Selic é repassada,
mas não há efeito psicológico negativo
no mercado, pois os aumentos nas taxas, oficialmente, não
acontecem.
"Quando o juro sobe, a loja não tem de aumentar
suas taxas imediatamente para repassar esse peso. Elas podem
embutir reajustes no preço à vista ou podem
negociar melhores pacotes de venda com a indústria
para não pressionar a margem da loja. Enfim, mecanismos
que, em certos casos, podem encarecer as mercadorias de qualquer
forma", diz Alberto Serrentino, sócio da consultoria
de varejo GS&MD.
O Ponto Frio pretende manter suas taxas de juros, assim como
o Extra, durante este ano. A Lojas Cem planeja fazer o mesmo.
A Casas Bahia informa que não irá aumentar as
taxas neste ano e que o que está sendo feito é
um aumento no prazo de pagamento dos produtos. Agora, há
eletroeletrônicos que podem ser comprados em até
18 vezes.
"O que existe é um jeito só. Se antes tínhamos
mais produtos com taxas mais baixas, agora temos um pouco
mais com taxas mais altas", diz Michael Klein, diretor
da Casas Bahia.
Lucros maiores
Os dados a respeito da lucratividade do varejo mostram
que eles estão ganhando bem mais dinheiro neste ano.
O Ponto Frio teve aumento de 54,3% no lucro líquido
no terceiro trimestre do ano sobre igual período de
2003. De julho a setembro, o montante chegou a R$ 11 milhões.
Na Lojas Americanas, o lucro operacional cresceu 21,1% e totalizou
R$ 39,6 milhões no terceiro trimestre.
Os juros cobrados nas lojas podem subir no primeiro bimestre
de 2005, dizem as lojas. Até lá, o varejo irá
segurar as atuais taxas, em parte porque ganhou fôlego
com os bons resultados obtidos neste ano, até o mês
agosto, período em que a lucratividade subiu.
"A tendência é que a alta dos juros não
seja repassada para o consumidor. A variação
da Selic tem um impacto de médio e longo prazo",
diz João Carlos Gomes, economista da Abras -entidade
do setor supermercadista.
Ao elevar a Selic, o Banco Central aciona um efeito "cascata"
no custo do crédito no país. Para possibilitar
o financiamento dos consumidores, os comerciantes também
utilizam recursos concedidos por instituições
do mercado financeiro. Resultado: aumento no valor das prestações
pagas pelos consumidores.
ADRIANA MATTOS
CÍNTIA CARDOSO
da Folha de S.Paulo
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