Heitor Augusto
Depois dos moradores de rua (“À Margem da Imagem”),
dos catadores (“À Margem do Lixo”) e dos
movimentos de moradia urbana (“À Margem do Concreto”),
chegou a vez de os teatros da praça Franklin Roosevelt,
região central, serem captados pela lente de Evaldo
Mocarzel.
O documentarista vai focar o processo
de transformação sofrido pela praça desde
que a Companhia de Teatro Os Satyros chegou ao lugar, em 2000.
A região, antes abandonada, passou a ser ponto de encontro
cultural. Hoje a praça conta com cinco teatros (Satyros
I e II, Espaço Parlapatões, Teatro do Autor
e Teatro Studio), além de dois bares e uma livraria.
“O foco será a ação
da arte em regiões deterioradas. Ao mesmo tempo, vou
contar a trajetória do Satyros”, explica Mocarzel.
“Eles iniciaram o movimento de revitalização
da Roosevelt”.
O documentário ainda está
em “fase embrionária”, como define o cineasta.
A idéia foi apresentada a Alberto Guzik, crítico
teatral, ator e diretor de diversas montagens dos Satyros,
e teve boa receptividade.
Olhar sobre espaços
degradados
Em sua carreira, Mocarzel assina documentários que
deram visibilidade a espaços degradados ou a populações
praticamente invisíveis.
Seu trabalho mais recente são
dois registros do espetáculo “Vertigem BR3”.
Durante dois meses, o Teatro da Vertigem encenou, em cima
de barcos, um espetáculo no rio Tietê. As 180
horas de material bruto vão render dois filmes: um
será o registro integral de uma apresentação;
o outro, um documentário sobre o processo de produção.
“Pra mim, o espetáculo foi um marco. Eles obrigaram
a cidade se contemplar nas águas do Tietê”,
avalia.
Mocarzel realizou também uma
trilogia sobre os marginalizados da cidade. O projeto inicial
se desdobrou em três filmes: “À Margem
da Imagem”, que discute a estetização
da pobreza focando os moradores de rua; “À
Margem do Concreto”, que conta a luta política
dos movimentos de moradia; e “À Margem do Lixo”,
sobre os catadores de material reciclável. “Era
pra ser um só, mas os sem-teto e os catadores não
aceitaram ser retratados no mesmo patamar dos moradores de
rua. Eles se articulam como um movimento político.”
O cineasta também documentou
as oficinas de audiovisual realizadas no Jardim Ângela,
zona sul. Os alunos, todos do bairro, tiveram aulas teóricas
e práticas. A conclusão do curso foi um curta-metragem.
Mocarzel filmou o processo de produção. “Um
dos alunos queria que o filme mostrasse um banho de sangue,
mas o restante se rebelou. Eles não querem ter o estigma
de lugar violento”.
Moradores da Roosevelt nos
palcos
No ano passado, o perfil heterogêneo dos moradores da
região virou peça teatral. Encenada no Satyros
e dirigida por um dos fundadores da companhia, Rodolfo Vásquez,
“A Vida na Praça Roosevelt” tinha personagens
arquétipos como duas irmãs gêmas surtadas,
o filho infeliz de um ricaço, o policial desequilibrado
pela perda do filho, uma travesti acima dos 60 anos.
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