O medo dos efeitos da reforma previdenciária fez o segmento de aposentadoria
complementar obter, em 2003, o melhor desempenho dos últimos
oito anos. As entidades de previdência privada venderam
mais de 1 milhão de planos no ano passado, ampliando
seu faturamento em 53,56%, para R$ 14,869 bilhões,
segundo dados da Associação Nacional da Previdência
Privada (Anapp).
"Para se ter uma idéia, só em 2003, a
captação foi 60% maior do que em 2002",
comemora Osvaldo Nascimento, presidente da Anapp e diretor-executivo
da Itaú Vida e Previdência.
Na opinião do executivo, não há dúvidas
de que a percepção sobre aposentadoria mudou.
Para isso, contribuíram as mudanças instituídas
pelo governo Lula, tais como o aumento do tempo de contribuição.
Edson Franco, diretor de Vida e Previdência da Real
Seguros e também da Anapp, vai na mesma direção.
Para ele, a intensa discussão da reforma previdenciária
no Congresso Nacional trouxe o tema para a sala dos brasileiros.
"Isso acabou fazendo com que a população
tomasse consciência de que o papel da previdência
pública é limitado. Ela é feita para
garantir a sobrevivência dos aposentados, e não
para garantir o poder aquisitivo de uma parcela da sociedade
que tem renda mais alta", diz, lembrando que o novo teto
para aposentadoria pelo INSS é de R$ 2,4 mil, mas,
para receber este valor, o trabalhador terá que recolher
uma contribuição maior por até 30 anos.
Mas não foi só a crescente dificuldade para
se aposentar que levou os brasileiros a buscar alternativas
para complementar os rendimentos no futuro, ressalta Nascimento.
"Também deve ser levado em conta o desenvolvimento
da previdência complementar aberta, sobretudo quando
se trata da proteção ao cliente. Hoje, é
ele quem escolhe o perfil do investimento. Além disso,
ficou muito mais fácil acompanhar a rentabilidade dos
planos", aponta.
De fato, novos produtos como o Vida Gerador de Benefícios
Livres (VGBL) vêm atraindo cada vez mais pessoas para
o sistema privado. Lançado há pouco mais de
18 meses, o VGBL cresceu 176,52% no ano passado, com receitas
beirando os R$ 7 bilhões contra R$ 4,5 bilhões
do Plano Gerador de Benefícios Livres (PGBL), que também
teve expansão, mas num ritmo mais moderado: 51,49%.
A diferença, explica Franco, é que sobre o
ganho do PGBL incide o Imposto de Renda mensal, o chamado
come-cotas. Já no VGBL, o IR é recolhido só
na hora do resgate, e apenas sobre o rendimento bruto.
"Não houve canibalização. O PGBL,
ideal para quem declara IR pelo formulário completo,
porque permite a dedução, continua vendendo
bem. Mas o VGBL, que já responde por 20% das reservas
e 45% da receita da indústria, atingiu um público
bem mais amplo, que é isento ou faz sua declaração
pelo modelo simplificado", afirma Franco.
A despeito do otimismo, os executivos do setor ressaltam
que a formação de poupança de longo prazo
depende do crescimento da economia e de uma maior distribuição
de renda.
"Antes de poupar, o brasileiro precisa ter emprego e
renda", resume Nascimento, que considera a estabilidade
de regras condição fundamental para atrair novos
clientes.
Ao todo, a indústria já soma 6,2 milhões
de planos ativos, com investimentos de R$ 48,5 bilhões.
As informações são
do Jornal do Brasil.
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