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ensino
23/02/2004
Inclusão exige capacitar os professores

A capacitação de professores tem importância-chave para a inclusão educacional. "É preciso trabalhar o conceito de estereótipo e o preconceito." Caso contrário, segundo Leny Magalhães Mrech, especialista em educação inclusiva da Universidade de São Paulo, o professor passa a trabalhar com esses alunos a partir de uma metodologia superada.

"É comprovado que, quando o professor é trabalhado e recebe apoio para lidar com suas dificuldades, a criança com deficiência é mais bem acolhida, e o professor se dá conta de que não é tão difícil lecionar para ela", acrescenta.

Depois de 32 anos de profissão, a professora Inês Mello, 56, teve seu primeiro aluno com síndrome de Down. Ela fez um curso de capacitação e, mesmo assim, enfrentou dificuldades.

"No curso, diziam que a forma de tratamento a ser dispensada para o aluno deveria ser a mesma dada às demais crianças. Na prática, isso não funcionava. O aluno apresentava outras exigências e tivemos de aprender, na prática diária, uma forma de lidar com isso, incentivando seus talentos e negociando as tarefas que o restante da classe fazia", disse Mello.

Já Flávia Cintra, do Instituto Paradigma, organização ligada à Abaed (Associação Brasileira de Apoio Educacional ao Deficiente), considera que tratamento igual é "balela". "Eu uso cadeira de rodas e não posso exercer o mesmo direito que os outros diante de uma escada. Tratar com igualdade significa respeitar a diferença para que cada um tenha o direito de ser como é."

"A inclusão das pessoas com deficiência nas classes regulares de ensino pressupõe adequações nas escolas, o que não pode ser feito por decreto. A criança com deficiência só agudiza a falta de preparo que existe nas escolas", afirma Marta Gil, gerente da Rede Saci, organização não-governamental de difusão de informações sobre deficiência.

O principal entrave à integração de alunos com deficiência continua sendo o preconceito. Para Flávia Cintra, ainda hoje, muitos pais acreditam que, caso seus filhos tenham como colega de classe um aluno com deficiência, seu desenvolvimento será comprometido e atrasado.

Segundo Cintra, professores que não passaram por nenhum processo de capacitação também têm medo de lidar com o deficiente. "Muitos não conviveram com crianças com deficiência na escola. Lembram delas como os maluquinhos que ficaram isolados."

Maria Tereza Mantoan, pedagoga e coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade (Leped), da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explica que o principal entrave para a inclusão dos deficientes na rede regular de ensino é a confusão quanto ao conceito de educação especial. "Educação especial é uma modalidade de ensino e não um nível escolar. Isso quer dizer que ela não substitui o ensino regular, mas o complementa", esclarece.

Na avaliação de Mantoan, as instituições de ensino especial passam por cima da legislação ao aceitar a matrícula de alunos que deveriam estar também no ensino regular, que deveria atender às necessidades especiais dos deficientes. "Está tudo errado."

O que mais tem sido feito nas escolas, diz Cintra, é a socialização das pessoas com deficiência. E isso não basta para a inclusão, afirma. "É preciso investir na formação continuada dos professores, no diagnóstico de cada caso e em suportes específicos para cada limitação. Não há receita."

 




FERNANDA MENA
da Folha de S. Paulo

   
 
 
 

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