A capacitação de professores tem importância-chave para
a inclusão educacional. "É preciso trabalhar
o conceito de estereótipo e o preconceito." Caso
contrário, segundo Leny Magalhães Mrech, especialista
em educação inclusiva da Universidade de São
Paulo, o professor passa a trabalhar com esses alunos a partir
de uma metodologia superada.
"É comprovado que, quando o professor é
trabalhado e recebe apoio para lidar com suas dificuldades,
a criança com deficiência é mais bem acolhida,
e o professor se dá conta de que não é
tão difícil lecionar para ela", acrescenta.
Depois de 32 anos de profissão, a professora Inês
Mello, 56, teve seu primeiro aluno com síndrome de
Down. Ela fez um curso de capacitação e, mesmo
assim, enfrentou dificuldades.
"No curso, diziam que a forma de tratamento a ser dispensada
para o aluno deveria ser a mesma dada às demais crianças.
Na prática, isso não funcionava. O aluno apresentava
outras exigências e tivemos de aprender, na prática
diária, uma forma de lidar com isso, incentivando seus
talentos e negociando as tarefas que o restante da classe
fazia", disse Mello.
Já Flávia Cintra, do Instituto Paradigma, organização
ligada à Abaed (Associação Brasileira
de Apoio Educacional ao Deficiente), considera que tratamento
igual é "balela". "Eu uso cadeira de
rodas e não posso exercer o mesmo direito que os outros
diante de uma escada. Tratar com igualdade significa respeitar
a diferença para que cada um tenha o direito de ser
como é."
"A inclusão das pessoas com deficiência
nas classes regulares de ensino pressupõe adequações
nas escolas, o que não pode ser feito por decreto.
A criança com deficiência só agudiza a
falta de preparo que existe nas escolas", afirma Marta
Gil, gerente da Rede Saci, organização não-governamental
de difusão de informações sobre deficiência.
O principal entrave à integração de
alunos com deficiência continua sendo o preconceito.
Para Flávia Cintra, ainda hoje, muitos pais acreditam
que, caso seus filhos tenham como colega de classe um aluno
com deficiência, seu desenvolvimento será comprometido
e atrasado.
Segundo Cintra, professores que não passaram por nenhum
processo de capacitação também têm
medo de lidar com o deficiente. "Muitos não conviveram
com crianças com deficiência na escola. Lembram
delas como os maluquinhos que ficaram isolados."
Maria Tereza Mantoan, pedagoga e coordenadora do Laboratório
de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diversidade (Leped), da
Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), explica que o
principal entrave para a inclusão dos deficientes na
rede regular de ensino é a confusão quanto ao
conceito de educação especial. "Educação
especial é uma modalidade de ensino e não um
nível escolar. Isso quer dizer que ela não substitui
o ensino regular, mas o complementa", esclarece.
Na avaliação de Mantoan, as instituições
de ensino especial passam por cima da legislação
ao aceitar a matrícula de alunos que deveriam estar
também no ensino regular, que deveria atender às
necessidades especiais dos deficientes. "Está
tudo errado."
O que mais tem sido feito nas escolas, diz Cintra, é
a socialização das pessoas com deficiência.
E isso não basta para a inclusão, afirma. "É
preciso investir na formação continuada dos
professores, no diagnóstico de cada caso e em suportes
específicos para cada limitação. Não
há receita."
FERNANDA MENA
da Folha de S. Paulo
|