Antes
de afirmar se o ciclo de alta dos juros básicos chegou
a seu último capítulo ou não, os analistas
financeiros esperam ansiosos pela divulgação
da ata da reunião do Copom para afinar suas opiniões.
A expectativa dos especialistas, porém, é que
as taxas comecem a cair a partir do último trimestre
deste ano.
Na próxima sexta-feira, o Banco Central divulgará
o documento, que trará explicações sobre
os motivos que levaram os integrantes do Copom (Comitê
de Política Monetária) a decidir em favor da
nona alta consecutiva da taxa básica de juros da economia
(Selic). Na quarta-feira, o Copom anunciou a elevação
da taxa Selic de 19,50% para 19,75% anuais.
O economista-chefe do ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado,
diz que é fundamental esperar a divulgação
da ata da reunião ocorrida na semana passada para afirmar
se acabou ou não o ciclo de altas. "Os juros devem
começar a ser reduzidos em outubro, para chegar a 18%
no fim do ano", afirma o economista.
Maristella Ansanelli, economista-chefe do banco Fibra, diz
que "parece que o BC vai aguardar a efetiva queda dos
índices de preços ao consumidor para encerrar
o ciclo de aperto monetário".
Na quinta-feira, a FGV (Fundação Getúlio
Vargas) divulgou a segunda prévia do IGP-M de maio,
que registrou deflação de 0,09%, dado importante
levando em consideração que o BC ajusta sua
política monetária de olho na evolução
da inflação. Mas, segundo ponderam analistas,
junho e julho podem trazer pressões extras sobre os
índices, em conseqüência do período
de entressafra.
A Modal Asset opina, em relatório assinado pelo economista
Alexandre Póvoa, que a ata do Copom deve vir "em
linha" com as duas últimas, sem grandes sinais
para a reunião de junho. Ao dar início, em setembro
passado, ao processo de alta dos juros, o BC buscou esfriar
a economia: se o consumo é menor, há menos espaço
para os preços subirem.
No caso dos custos para o setor produtivo, o aumento dos
juros básicos é algo sempre negativo. A Selic
serve de referência para as taxas praticadas no mercado
financeiro: se ela sobe, as outras são pressionadas.
A taxa prefixada para 360 dias, por exemplo, saiu de 17,80%
em dezembro de 2004 para atingir os 18,95% anuais na sexta-feira.
Essa taxa é uma referência para os juros cobrados
do setor produtivo.
Na quinta-feira, primeiro dia de negócios após
a decisão do Copom, o mercado futuro de juros se agitou.
Na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), o número
de contratos DI --que espelham os juros praticados entre os
bancos-- girados na quinta saltou 46% em relação
ao pregão anterior. A taxa do contrato DI mais negociado,
com vencimento em janeiro de 2006, subiu de 19,40% para 19,60%.
Se a ata do Copom trouxer um diagnóstico mais pessimista,
o mercado de juros futuros tem tudo para voltar a se agitar.
Apesar de poucos afirmarem que o ciclo de alta do juros já
acabou, os investidores estão majoritariamente posicionados
nesse sentido na BM&F.
O último boletim Focus, elaborado pelo Banco Central,
mostra a previsão média do mercado financeiro
de que a taxa Selic vai estar em 18% no fim de 2005 --quase
dois pontos percentuais abaixo da atual taxa. Ou seja, as
apostas são de que os juros voltarão a cair
a partir do último trimestre deste ano.
FABRICIO VIEIRA
da Folha de S.Paulo |