FLORIANÓPOLIS
(SC) - A Secretaria de Saúde de Santa Catarina trabalha
com a estimativa de cerca de que 50 mil pessoas podem ter
contraído a doença de Chagas após consumirem
caldo de cana em quiosques às margens da BR-101, entre
os municípios de Piçarras e Itajaí. Por
enquanto, apenas três mortes foram confirmadas, entre
os 37 casos suspeitos até agora. "As secretarias
municipais de saúde estão sendo mobilizadas
para poderem fazer o teste, a partir de segunda-feira. Estamos
recebendo 40 mil kits do Ministério da Saúde",
disse o diretor da Vigilância Epidemiológica
do Estado, Luiz Antonio Silva. Segundo ele, no momento não
existe estrutura suficiente para atender à demanda.
Silva disse também que não é possível
determinar a quantidade de pessoas de outros Estados que podem
estar com a doença, já que o período
em que foi servido o caldo de cana contaminado coincidiu com
um grande movimento de turistas na BR-101. A recomendação
é a de que as pessoas que consumiram caldo de cana
na região em fevereiro devem procurar com urgência
o serviço de saúde de suas cidades se estiverem
com febre, mal estar, falta de apetite, inchaço nas
pálpebras e distúrbios cardíacos, afim
de realizarem exames. A doença de Chagas, em sua forma
aguda, pode matar. Caso tenham tomado a bebida, mas não
apresentam sintomas, também devem fazer os exames para
garantir que não foram infectados. As drogas existentes
só são eficazes na fase inicial da doença.
Desde o início da semana, técnicos da Vigilância
Epidemiológica e do Ministério da Saúde,
além de outros órgãos, estão se
reunindo para descobrir a origem da cana de açúcar
contaminada. Ele também estão fazendo trabalho
de campo para descobrir focos de barbeiro, o inseto transmissor
da doença. Além disso, a Vigilância Sanitária
está interditando todos os pontos de venda de caldo
de cana, que está proibida em todo o Estado.
O vice-presidente da Câmara de Vereadores de Balneário
Camboriú, Claudir Maciel (PPS), foi uma das vítimas
do caldo de cana. Ele estava se sentindo mal desde a última
sexta-feira, sendo internado na madrugada de terça-feira
no Hospital Nereu Ramos, em Florianópolis, onde há
cinco internados. De acordo com o plantão médico,
quatro pacientes já saíram da terapia intensiva
e o quadro clínico evolui de forma lenta, mas estão
estáveis, apesar das alterações hepáticas.
Até o momento, foram confirmados 19 casos de doença
de Chagas provocados pelo caldo de cana.
Em Joinville, a Secretaria Municipal de Saúde está
credenciando os laboratórios da cidade que vão
fazer os exames para identificação da doença
de Chagas. Uma força-tarefa vai traçar estratégias
para coleta de sangue, diagnóstico e tratamento dos
casos confirmados. "A prioridade será para os
pacientes sintomáticos", informou Luiz Henrique
de Melo, médico infectologista e coordenador da força-tarefa.
Seis casos foram confirmados na cidade, com uma morte. Cinco
pessoas permanecem internadas e uma continua em estado grave.
Medicamentos
O Ministério da Saúde informou que foram enviados
para Santa Catarina medicamentos numa quantidade suficiente
para tratar 60 pessoas que estiverem com sintomas do mal de
Chagas. O estado também vai receber do governo federal
kits de remédios para fazer o diagnóstico da
doença. Apesar das ações que estão
sendo executadas pelo governo federal, Ministério da
Saúde descartou a possibilidade de haver uma epidemia
da doença em Santa Catarina por considerar que a doença
no País está sob controle.
Segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde
(SVS) do ministério, em Santa Catarina não há
registro do barbeiro que transmite a doença. Sobre
o registro de que um morador de Brasília estaria com
os sintomas da doença, a SVS informou apenas que o
paciente está hospitalizado em Brasília e que
esteve em Santa Catarina para passear. O ministério
não soube dar informações a respeito
de seu estado de saúde, mas informa que são
cinco as mortes já confirmadas.
Os técnicos da SVS trabalham com três hipóteses
que podem ter sido as causas da transmissão da doença:
um agente da família do inseto triatoma infestans,
vulgarmente conhecido por barbeiro, pode ter sido moído
junto com a cana-de-açúcar; as fezes desse inseto
podem ter sido moídas com a cana; ou as fezes de um
animal picado por um inseto com o protozoário transmissor
do mal de Chagas podem ter contaminado o caldo de cana.
Há uma equipe de 14 pessoas do Ministério da
Saúde trabalhando em Santa Catarina para apoiar o governo
estadual no esforço de identificação
das causas da contaminação e atender às
pessoas doentes.
KAZUO INOUE
GILSE GUEDES
da Agência Estado
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