BRASÍLIA,
SÃO PAULO E RIO. O ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini,
afirmou ontem que vai analisar com rigor o contrato do ministério
com a organização não-governamental Ágora,
no valor de R$ 7,5 milhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador
(FAT), para 40 ações do projeto Primeiro Emprego.
O contrato foi assinado em 2003. A entidade, segundo a revista
“Veja” desta semana, teria desviado R$ 900 mil
dos governos de São Paulo, Rio Grande do Sul e Distrito
Federal destinados a programas estaduais de capacitação
de jovens. De acordo com a reportagem, a fraude teria ocorrido
entre 1999 e 2002 e envolveria o uso de 54 notas fiscais frias
de 33 empresas fantasmas.
"Não tenho nenhuma notícia desabonadora
da entidade. As auditorias nos contratos são feitas
pelo Tribunal de Contas da União e pela Controladoria
Geral da União. Mas se encontrarmos qualquer indício,
será feita uma nova auditoria e o resultado será
enviado ao Ministério Público", disse o
ministro do Trabalho.
A Ágora é presidida pelo empresário
Mauro Dutra, amigo do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva. No período das fraudes, o secretário-executivo
da Casa Civil, Swedenberger Barbosa, integrava seu conselho
administrativo. Berzoini disse que o fato de Dutra ter ligações
estreitas com o PT não faz diferença na análise
da lisura da empresa, na hora de se fechar um contrato:
"Quando estudo um contrato não vejo pessoas,
mas o comportamento e a lisura da entidade. As ligações
da entidade com A, B, ou C não interessam".
Apuração rigorosa
A oposição vai cobrar a apuração
rigorosa do caso. O líder do PFL no Senado, José
Agripino Maia (RN), disse que é preocupante o fato
de, em quatro meses, três pessoas intimamente ligadas
à cúpula governista terem sido alvo de denúncias
de corrupção, numa referência às
acusações contra Waldomiro Diniz (ex-subchefe
para Assuntos Parlamentares da Casa Civil) e Luiz Cláudio
Gomes da Costa (assessor do Ministério da Saúde
e suspeito de ser um dos chefes da Máfia do Sangue).
"São pessoas muito ligadas à cúpula
do governo envolvidas em casos gravíssimos de corrupção.
Até quando o governo continuará dizendo que
nada tem com isso? É preciso uma investigação
profunda com punição dos responsáveis,
sob pena de a corrupção virar endêmica",
disse Agripino.
Já o líder do governo na Câmara, Professor
Luizinho (PT-SP), afirmou que, tanto nas denúncias
contra a Ágora quanto nas investigações
da Máfia do Sangue é o governo anterior que
tem de prestar esclarecimentos:
"Ser amigo agora é comprovação
de crime? Quer dizer que Dom Mauro Morelli virou bandido do
dia para a noite? Ele era do conselho da Ágora na mesma
época que o Barbosa".
Dom Mauro defendeu Dutra. Ele disse que a gestão do
empresário na Ágora sempre foi “pautada
pelos padrões da ética, da justiça e
da solidariedade”. O bispo afirmou ainda que Dutra “jamais
iria coonestar práticas escusas e ilícitas".
Contratos
Entre 2000 e 2002, o governo de São Paulo repassou
cerca de R$ 9,6 milhões para a Ágora, segundo
o secretário de Emprego e Relações do
Trabalho de São Paulo, Francisco Prado Ribeiro. No
período, a entidade capacitou 11.328 jovens.
"Nossa função era apenas fiscalizar os
cursos. As notas eram enviadas diretamente ao ministério
que escolhia também a quem deveria ser destinada a
verba", informou o secretário.
Prado disse desconhecer qualquer denúncia de cursos
fantasmas e alega que nunca teve contato com Dutra.
"Os pacotes já vinham fechados, nós só
atendíamos os pedidos. Nem sabia que a ONG tinha ligações
com petistas."
Antes mesmo de ler a reportagem com as denúncias,
o secretário pediu relatórios a diversas áreas
para saber de convênios, valores pagos e a pagar.
"Se tivéssemos sabido antes, já teríamos
apurado. O que eu sabia era que a Ágora era uma organização
séria."
As informações são
do jornal O Globo.
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