Depois
de apenas um mês de recuperação em relação
ao ano passado, a renda média real dos trabalhadores
voltou a cair em agosto tanto em relação ao
mesmo mês de 2003 quanto a julho deste ano. Já
a taxa de desemprego, que vinha apresentando retração
por três meses, passou de 11,2% em julho para 11,4%
em agosto, o que, diz o IBGE, significa estabilidade. A queda
do rendimento médio real (descontada a inflação)
foi de 1,4% em relação a julho e de 0,93% contra
agosto de 2003. Com isso, a renda média ficou em R$
893,10, bem inferior à de dois anos atrás.
Em agosto de 2002, o valor era de R$ 1.045,52. Em julho,
a renda real havia apresentado alta (2,01%) em relação
ao mesmo período do ano passado, a primeira desde que
a comparação começou a ser feita pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
em março de 2003. O que parecia ser um primeiro indício
de recuperação dos ganhos do trabalhador virou
retração em agosto, causando surpresa nos analistas.
"A queda na renda foi uma surpresa. Não esperava
um crescimento de 2%, como em julho, mas preocupa ter voltado
a ficar abaixo do patamar de 12 meses atrás, já
que 2003 foi um ano muito ruim para a economia", disse
Lauro Ramos, coordenador de Estudos de Mercado de Trabalho
do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada),
órgão do Ministério do Planejamento.
"Não esperava que a renda fosse cair", afirmou
o diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, João Sabóia. "Mas não
significa que não poderemos melhorar. A economia cresce
num ritmo bom." O gerente da Pesquisa Mensal de Emprego
do IBGE, Cimar Pereira, aponta uma ligeira piora do mercado
de trabalho como uma das causas da queda dos rendimentos.
Em agosto, houve alta, mesmo que pequena, no setor informal,
que une os empregados sem carteira assinada -0,5% em relação
a julho- com os trabalhadores por conta própria -1%.
Ao mesmo tempo, foi registrada queda de 0,6% no total de empregados
com carteira assinada. Também aumentaram os trabalhadores
em serviços domésticos (2,8%) e construção
civil (2,6%).
"São setores que sabemos que remuneram mal",
disse Pereira. Ele aponta ainda outro fator -uma alta da inflação
sem uma reposição salarial equivalente. O INPC
(Índice Nacional de Preços ao Consumidor) estava
em 4,4% em maio, subiu para 6% em julho e chegou a 6,3% em
agosto. Sabóia ressalta que, segundo os números
da população economicamente ativa (pessoas que
pelo menos tentaram encontrar emprego), 101 mil pessoas entraram
no mercado. Desse total, cerca da metade conseguiu se ocupar,
e a outra metade entrou para o índice de desempregados.
"A renda caiu porque as pessoas que conseguiram se ocupar
foram trabalhar por conta própria ou em empregos sem
carteira, que são as duas piores categorias de ocupação."
Lauro Ramos, do Ipea, aponta que dos 19,18 milhões
de ocupados em agosto, 2,85 milhões são sub-remunerados
(rendimento mensal por hora trabalhada inferior ao salário
mínimo/ hora). "Isso mostra o quão fundo
fomos na deterioração do mercado."
GABRIELA WOLTHERS
da Folha de S.Paulo, sucursal do Rio
|