Em 20
anos, o número de brasileiros vivendo nos Estados Unidos
quintuplicou. Eles estão mais escolarizados e uma boa
parte exerce funções qualificadas, o que faz
com que a linha de pobreza de brasileiros nos EUA seja menor
do que a verificada entre hispânicos e negros americanos.
Nessas duas décadas, o destino preferido deixou de
ser o Estado da Califórnia e tornou-se a Flórida.
As conclusões vêm do censo populacional dos EUA
de 2000 e foram tabuladas por Franklin Goza, demógrafo
americano da Universidade Estadual de Bowling Green (Ohio).
O estudo será apresentado no 14º Encontro Nacional
da Associação Brasileira de Estudos Populacionais,
que termina amanhã em Caxambu (MG).
Os brasileiros contados pelo censo dos EUA passaram de 47.965
em 1980 para 247.020 em 2000. Mas Goza -que lecionou no Centro
de Planejamento e Desenvolvimento Regional, da UFMG, de 1988
a 1990- diz estar certo de que o número de brasileiros
vivendo nos EUA, legal ou ilegalmente, é maior.
"Trabalhamos com estimativas de que essa população
seja maior do que 500 mil. No entanto, mesmo os dados do censo
sendo sigilosos, sabemos que muitos trabalhadores ilegais
podem ter tido medo de prestar informações para
os pesquisadores do governo. De qualquer jeito, o censo é
a fonte mais precisa para avaliar as condições
de vida dos brasileiros nos EUA", explica Goza.
A comparação com o perfil dos brasileiros nos
censos anteriores permite verificar mudanças importantes
no padrão de vida dos imigrantes. A maioria (54,4%)
deles chegou aos EUA na década de 90. Em 1980, a maior
parte estava nos Estados da Califórnia (18,1%) e de
Nova York (17,4%). Hoje, a prevalência é de Flórida
(19,9%) e Massachusetts (17,1%).
Os que foram para lá e tinham ensino superior completo
ou incompleto eram 46,2% em 1980 e passaram a 56,8% em 2000.
A profissão mais comum de homens era a de gerentes
e empresários, com 9,8%, seguido de profissionais e
técnicos especializados, com 6,1%. As profissões
mais comuns das mulheres eram as de trabalhadoras domésticas
(11,9%) e gerentes e empresárias (5,7%).
Na comparação com outras minorias nos EUA, os
brasileiros apresentam um grau de pobreza menor. O estudo
mostra que 17% dos brasileiros viviam abaixo da linha da pobreza.
"Essa porcentagem é o dobro da encontrada entre
norte-americanos brancos, mas é menor do que a verificada
entre hispânicos e afro-americanos. No caso desses dois
últimos grupos, a linha de pobreza é maior do
que 25%", disse Goza.
Para o pesquisador, isso indica que os brasileiros têm
perfil mais qualificado do que se imagina e vão aos
EUA dispostos a trabalhar duramente para se manter lá.
"De 1990 para 2000, a porcentagem de brasileiros que
migram para os EUA com a família aumentou de 53% para
60%. A maior parte dos que podem tirar a nacionalidade americana
[somente os que moraram legalmente cinco anos lá podem
pleitear esse direito] opta por se naturalizar. Isso mostra
que eles têm um projeto de futuro nos EUA. Podem até
voltar para o Brasil na aposentadoria, mas pensam em ficar
bastante tempo no país", afirma.
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S.Paulo
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