Vanessa
Sayuri Nakasato
Enviada especial a Campos do Jordão *
Elaborar dezenas de projetos para incluir deficientes físicos
nas escolas não basta. Antes de mais nada, é
necessário possibilitar acessos em todo o complexo
escolar. Essa foi a conclusão dos profissionais que
debateram "Educar para quê?", no encontro
DNA Brasil - 50 Brasileiros Param para Pensar a Vocação
do País, em Campos do Jordão, São Paulo,
entre os dias 16 e 18 de setembro.
Embora tenha aumentado o número de portadores de deficiência
física nas escolas, segundo números do Ministério
da Educação (MEC), a porcentagem é ínfima
e o Brasil ainda é um país excludente.
O psicólogo italiano Contardo Calligaris, que estuda
a exclusão social do Brasil, afirmou com exclusividade
para o site GD que é impossível projetos de
inclusão funcionarem quando a cidade onde o deficiente
vive não o oferece acesso físico para que ele
tenha uma vida normal.
No caso da educação, o resultado jamais será
completo à criança especial. Ela poderá
se sentir bem ao conviver com coleguinhas que a aceitam, mas
se sentirá frustrada quando se deparar à realidade
e começar a encontrar obstáculos à sua
frente. "É como se a criança pensasse "eles
não pensaram em mim" ao encontrar uma escadaria
ou um simples degrau", explica Calligaris.
Ele conta que nos Estados Unidos, onde morou nos últimos
10 anos, existe uma lei obrigando a instalação
de rampas e elevadores em todos os lugares públicos
e privados.
"Quando eu era professor na Universidade da Califórnia,
em Berkeley, alguns alunos estrangeiros perguntavam se os
americanos sofriam muitos acidentes. Eles comentavam admirados
que nos Estados Unidos há muito deficiente físico.
Não há mais nem menos que nos outros países.
A diferença é que eles vão para as ruas,
circulam, não ficam trancafiados em casa como no Brasil",
conta.
O psicólogo diz que o Brasil precisa aprender a aceitar
e a conviver com portadores de necessidades especiais, principalmente
nas escolas. Conforme Calligaris, é muito saudável
para a criança crescer com as diferenças e trata-las
de forma natural. "Quem exclui é tão excluído
quanto a pessoa que está sendo excluída, porque
quem não convive com o outro se empobrece."
Na opinião do educador e escritor Rubem Alves, é
muita hipocrisia falar em inclusão de deficientes nas
escolas."As instituições educacionais são
feitas em linhas de montagem. Muitas têm lindos projetos,
belas idéias, mas são poucas as que adaptam
seus ambientes. Não tem como tratar a inclusão
de deficientes sem espaço físico para elas."
O consenso de todos os debatedores do assunto é que
as barreiras arquitetônicas são apenas o começo
de um enorme problema. E para o processo inclusivo acontecer,
é preciso que haja acessibilidade a todos.
(*a jornalista foi convidada pelo
DNA Brasil.)
|