Vanessa
Sayuri Nakasato *
Enviada a Campos do Jordão, São Paulo
A televisão tem educado mais do que a escola. Esse
foi um dos principais temas abordados no evento DNA Brasil
– 50 Brasileiros Param Para Pensar a Vocação
do País, realizado em Campos do Jordão, interior
paulista, nos dias 16, 17 e 18. Nos dois dias em que a educação
foi debatida, jornalistas, educadores, pesquisadores e artistas
mostraram grande preocupação em relação
ao assunto.
Conforme o brasilianista Thomas Skidmore, a importância
e a influência da TV no país se deve ao fato
de que o veículo é o único a atingir
todas as classes sociais democraticamente. “O Brasil
tem vocação para a televisão. É
a vocação mais visível. As novelas, por
exemplo, tem um papel fundamental na cultura brasileira. Ela
funciona como uma espécie de contadora de histórias
e há uma integração. É assistida
por crianças, adultos, ricos, pobres.”
Para o educador e escritor Rubem Alves, a televisão
tem tido função negativa na formação
dos brasileiros, em especial, crianças e jovens. Embora
haja excelentes escolas e ótimos professores, quem
mais ensina e com facilidade é a TV. “Isso é
muito ruim porque, além de a maioria dos programas
ser de má qualidade, ela passa valores que nem sempre
são os melhores”, analisa.
Mas nem todos pensam assim. A atriz Regina Cazé afirma
que apesar de a televisão brasileira possuir falhas
e imperfeições, seu saldo ainda é positivo.
Graças ao veículo, gerações inteiras
sabem o que é Brasil, conhecem outras culturas e costumes.
“Se compararmos o conteúdo que a criança
tem acesso na escola, principalmente a pública, a TV
mais ajuda do que atrapalha. O jornal que mais vende no Brasil
vende um milhão. Com essa audiência na televisão,
o telejornal é tirado do ar. Se não houvesse
jornalismo na TV, ninguém saberia nada do que acontece,
pois são poucas as pessoas que possuem o hábito
da leitura”, ressalta.
Um dos motivos de a televisão brasileira estar aquém
do desejado é a atual economia do país. A jornalista
Silvia Poppovic explica que houve uma grande crise há
alguns anos e, na falta do dinheiro, os programadores desesperados
para manter seus empregos começaram a fazer uma programação
apelativa.
Antigamente, três companhias aéreas que anunciavam:
Transbrasil, Varig e Vasp. Com a recessão, por um bom
tempo, somente a Varig continuou a veicular propagandas. Ou
seja, a verba despencou. Para conseguir atrair dinheiro no
mercado, grande parte da programação passou
a ser de auditório e sem muita elaboração,
porque o custo é mais barato.
Entretanto, a jornalista diz que é possível
fazer programas de TV de qualidade com pouco capital, sejam
eles de auditório ou não. “Você
pode fazer um programa muito divertido, bom e instrutivo.
Mas, infelizmente, não é isso que temos visto
por ai”, lamenta. Segundo Silvia, a televisão
tem “função gigantesca” não
apenas na educação, mas na cultura nacional,
no jeito brasileiro de ser. “Se a gente tiver uma televisão
com qualidade, nós poderemos fazer grandes transformações
no país. Para melhor”.
(*A jornalista foi convidada pelo
DNA Brasil)
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