Rodrigo
Zavala
E special para o GD
Não é necessário analisar profundamente
os meandros do sistema de ensino do país para crer
que algo está errado. O número de pessoas que
não conseguem fazer cálculos minimamente complexos
- que chega a 77% dos brasileiros - ou mesmo ler textos menos
coloquiais (76%) são apenas exemplos disso. No entanto,
o romancista e dramaturgo Alcione Araújo vai além:
não só a educação não forma
profissionais, como também está cada vez mais
longe de formar cidadãos e seres humanos.
Segundo ele, a preparação dos que cumprem o
trajeto da escola fundamental à universidade não
é adequada às necessidades contemporâneas
que, ao chegar ao seu desgastante fim, frustra tanto estudantes
quanto professores. "A educação não
é um conjunto de regras, é um jogo pedagógico
de transmissão do saber. E para isso é preciso
pensar. Uma atitude de extrema gratuidade que se descolou
da escola", acredita.
A atitude do pensar, suprimida na escola tradicional, na
visão do dramaturgo, se perdeu a partir incorporação
da idéia de ensino, que se difere da educação.
Para ele, apesar de serem freqüentemente colocados sob
a mesma definição, a diferença gritante
entre esses dois conceitos se dá no fato que o ensino
aponta para uma metodologia vertical, em que o aluno é
"meramente um depositário".
Embora essas conclusões não sejam novas, Araújo
credita a essa má formação, aliada a
um completo contexto social desigual, à incapacidade
dos estudantes de sistematizar sua aproximação
das diversas formas de expressão artística.
Assim, o sistema de educação "acaba por
desincumbir-se da tarefa de despertar a dimensão do
sensível do ser humano".
Durante seu discurso, ele se mostra bastante pessimista em
relação aos resultados desse equívoco.
"Sem criar o hábito da vivência estética,
estudantes não se inserem na vida cultural do país.
Instala-se a esquizofrênica separação
entre educação e cultura".
Com essa base, Araújo traça uma linha do tempo
da cultura brasileira, mostrando que não se foi capaz
de unir a cultura tradicional, erudita com a popular, o que
criou um abismo histórico no país. E nesse espaço,
a indústria do entretenimento se fixou, aproveitando-se
desse desligamento, que segundo o romancista, sempre foi apenas
social.
"A indústria do entretenimento contamina a cultura
popular, degenerando-a ao ponto que ela passa a ser uma reprodução
do industrializado. Enquanto isso, a tradicional é
afastada cada vez mais, banalizada, tornando-se cada vez mais
rara", critica o dramaturgo.
A mensagem final de suas constatações não
poderia ser diferente, é mais do que clara a necessidade
de se investir em uma educação plural, que consiga
integra-se a missão da primeira universidade do mundo,
de Bologna: formar para uma profissão, formar para
a cidadania e formar o ser humano. "Se você não
se emocionar com um quadro ou com um poema. Se for ao cinema
e não achar nada. Você está ficando um
ser humano mais pobre".
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