O município
de Pelotas (RS) formou no sábado seis professores surdos,
habilitados a dar aulas para alunos "ouvintes" ou,
especialmente, para surdos.
Para serem integrados à rede pública municipal
de ensino, os seis --Diogo Madeira, Andréa Figueiredo,
André Lima Cruz, Bianca Peter, Liliane Silveira e Raphael
Siqueira-- terão ainda de prestar um concurso público,
o que deverá ocorrer em breve, segundo o secretário
municipal de Educação, Mauro Del Pino. "Deverão
ser aprovados e integrados".
Del Pino afirmou que o surdo não é tratado
como deficiente, pois "a expressão deficiente
auditivo é ultrapassada, o surdo tem linguagem e cultura
diferentes". "É como um japonês no
Brasil sem falar português", comparou.
No curso, usou-se mais a linguagem dos sinais e dos símbolos
escritos. Até a conjugação verbal tem
diferenças para os surdos.
Diogo Madeira conta que certa vez, na escola, passou um mês
sem responder à chamada, até que a professora
perguntou por ele, dizendo estranhar a ausência do aluno.
Ele não conseguia responder. "Não quero
que isso ocorra com outras pessoas."
Em termos práticos, os professores aprenderam a contar
histórias que incluem até mesmo a da "Chapeuzinho
Vermelho surda".
Ao serem concursados, alguns dos novos professores deverão
lecionar para os cerca de 80 alunos surdos existentes nas
escolas municipais de Pelotas (320 mil habitantes), entre
ensino fundamental e médio (o total é de 30
mil estudantes).
Assim como o português, a Libras (Língua Brasileira
de Sinais) é idioma oficial de Pelotas desde 2001.
De acordo com a prefeitura, essa primeira turma de magistério
do município é a única no país
completamente habilitada para lecionar em escolas de surdos.
LÉO GERCHMANN
da Agência Folha, Porto Alegre
|