O relatório
da ONU (Organização das Nações
Unidas) sobre o estado da população mundial,
divulgado nesta quarta-feira, destaca que o Brasil está
passando por uma "janela de oportunidade" para o
desenvolvimento.
Cada país fica nesta situação apenas
uma vez, quando a queda da natalidade faz com que o número
de dependentes (crianças e idosos) fique menor do que
os adultos em idade ativa. A "janela" do Brasil
começou em meados dos anos 90.
"Um estudo sugere que a queda nos índices de
natalidade no Brasil teve um impacto de 0,7 ponto percentual
no crescimento anual do PIB per capita. Situações
similares foram observadas no México e em outros países
da América Latina", diz o relatório Estado
da População Mundial, que tem como base as ações
e metas discutidas na cúpula mundial sobre populações,
realizada no Cairo, em 1994.
Mas para aproveitar ao máximo a oportunidade, a ONU
avalia que o Brasil tem que conseguir dar empregos e garantir
educação aos jovens.
"Avanços importantes aconteceram na alfabetização,
mas agora o Brasil tem de investir mais na educação
secundária, na educação universitária
e na educação da mulher", diz a representante
do Fundo de Populações das Nações
Unidas (UNFPA, na sigla em inglês), Tânia Patriota.
"Bônus demográfico"
Pesquisadores destacam que países que aproveitaram
bem seu momento de "janela demográfica" --como
a Coréia do Sul e Taiwan, nos anos 80-- tiveram um
salto no desenvolvimento.
"A janela é um momento único, de duas
ou três décadas, em que a demografia incentiva
o desenvolvimento. É um bônus demográfico
que não pode ser perdido", diz John Bongaarts,
diretor-executivo de pesquisas em políticas públicas
do Conselho para a População, um centro de estudos
de Washington.
"A China conseguiu criar uma janela demográfica
com a política de permitir apenas um filho por família.
Não se trata de uma política aceitável,
pelo menos nas sociedades ocidentais, mas os chineses conseguiram
preparar a estrutura de sua população para o
desenvolvimento."
Os Estados Unidos e, principalmente, a Europa passaram essa
fase. Com os índices de natalidade cada vez mais baixos
e os avanços na medicina alongando a vida das pessoas,
a população está em claro processo de
envelhecimento.
"Há uma tendência em se tratar do problema
apenas sob a ótica dos gastos e da viabilidade da previdência
social (que tem de pagar cada vez mais aposentados), mas esse
é um problema mais profundo", diz Bongaarts.
"Sem uma abertura maior para a imigração
e sem aumentar a taxa de natalidade, não há
solução", opina o pesquisador.
Brasil
O relatório Estado da População Mundial
traz diversos elogios a programas implantados pelo Brasil,
principalmente nas área de saúde e proteção
da mulher.
A ONU adverte, no entanto, que o alcance dos programas ainda
é limitado.
"As lei e projetos no Brasil são muito bons e
a Constituição de 1988 é bem avançada,
mas há uma grande falta de recursos para estes projetos",
diz Tânia Patriota.
A representante da ONU elogia "o esforço e o
interesse do governo", mas observa que muitos dos programas
não teriam sido implantados sem o grande apoio de ONGs.
"Agora que os programas estão implantados, o
governo precisa contratar e treinar mais gente para levar
este benefício a toda a sociedade. Apesar dos avanços,
ainda são as parcelas mais pobres da população
que ficam sem atendimento", diz.
PAULO CABRAL
da BBC Brasil
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