Morar
em cidades com menos de 200 mil habitantes, na Região
Nordeste, trabalhar, ter sido reprovado na escola e ter pais
com baixa escolaridade são características encontradas
em maior grau entre os estudantes que estão no estágio
muito crítico do conhecimento em Língua Portuguesa.
Os dados que associam o perfil dos alunos da 4ª série
do ensino fundamental ao desempenho são do Sistema
Nacional de Avaliação da Educação
Básica (Saeb) 2003.
A avaliação, realizada pelo Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep/MEC), mostra que os estudantes no pior patamar de desempenho
do Saeb estão, em geral, em atraso escolar e se concentram
nas escolas públicas municipais. Esses alunos compartilham
também de outras características comuns: a maioria
não tem ninguém na família que os acompanhe
na vida escolar com regularidade e também não
freqüentou a educação infantil.
Carlos Henrique Araújo, diretor de avaliação
da Educação Básica do Inep, explica que
o perfil dos estudantes no estágio muito crítico
foi construído a partir das respostas mais freqüentes
a uma série de questões aplicadas no questionário
socioeconômico do Saeb. “Não significa
que os alunos com pior desempenho estejam todos no Nordeste,
por exemplo, mas esta é a região onde há
um maior percentual de alunos nesse patamar de desempenho
em relação ao conjunto dos seus estudantes”,
afirma.
Para o presidente do Inep, Eliezer Pacheco, os dados indicam
que uma política de melhoria da qualidade do ensino
público deve incluir investimentos em recursos didático-pedagógicos
como bibliotecas, equipamentos de informática e quadras
esportivas. “O envolvimento dos pais na escola e o aumento
do diálogo com as famílias também é
fundamental, como mostram os resultados da avaliação.
As escolas podem, inclusive, oferecer condições
de formação para mães e pais por meio
da educação de jovens e adultos”, diz.
Segundo Pacheco, o combate ao trabalho infantil, inclusive
o doméstico, políticas de combate à repetência
e à evasão escolar, além de maior rigor
na definição e cobrança das tarefas escolares
devem ser consideradas condições para o sucesso
escolar. Como outras medidas estão a ampliação
da educação infantil e investimentos na valorização
de professores. “A proposta do Ministério da
Educação de criação do Fundo de
Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb),
que amplia para a educação infantil e para o
ensino médio a redistribuição de recursos,
atualmente restrito ao ensino fundamental, será um
dos instrumentos para viabilizar políticas que respondam
a essas questões”, afirma.
Perfil muito crítico
A região que possui o maior número de crianças
no estágio muito crítico no Saeb é a
Nordeste, com 29,3%, seguida pela Região Norte, com
21,2%. Com o menor percentual está a Região
Sul, com 11,6%. Nas cidades com menos de 200 mil habitantes,
22,3% dos alunos estão neste nível de desempenho.
Já naquelas com população acima dessa
quantidade, excetuando-se as situadas nas regiões metropolitanas,
15% dos alunos da 4ª série tiveram o pior desempenho
no Saeb. “Os resultados mostram que as desigualdades
regionais devem ser combatidas com políticas focadas,
especialmente nas Regiões Norte e Nordeste e nas cidades
menores”, diz o presidente do Inep.
Os alunos das escolas municipais apresentam um pior desempenho:
22,8% dos estudantes estão no estágio muito
crítico de desempenho em Língua Portuguesa.
Os municípios concentram 66% dos 18,9 milhões
de alunos de 1ª a 4ª série do ensino fundamental,
de acordo com dados do Censo Escolar. No outro extremo, as
escolas privadas, que têm 9% da matrícula de
1ª a 4ª série, o índice de muito crítico
foi de 2,7%. Nas escolas federais, o índice de alunos
no estágio muito crítico é de apenas
1,2%, mas a representatividade da matrícula é
muito pequena em relação ao total.
A reprovação, o abandono e o conseqüente
atraso escolar dos estudantes também incidem negativamente
no desempenho. Entre os alunos reprovados pelo menos uma vez,
32% se situavam no pior patamar de desempenho do Saeb e entre
aqueles que não foram reprovados, 12,4%. Do total de
alunos que declararam ter abandonado a escola pelo menos uma
vez, 32,6% estão no estágio muito crítico
e para aqueles que não deixaram a escola o índice
é de 16,6%. Em relação ao atraso escolar,
19,3% dos alunos que apresentam um ano de defasagem estão
no estágio muito crítico e 11,1% entre aqueles
que não apresentam distorção idade-série.
Um outro indicador que tem forte impacto na aprendizagem
é a escolaridade das mães e pais. Dos estudantes
com mães que nunca estudaram, 36,8% tiveram o pior
desempenho no Saeb 2003. Para aqueles cujas mães iniciaram
ou completaram o curso superior, esse índice é
de 10%.
A oportunidade de cursar a educação infantil
também faz diferença no desempenho dos estudantes.
Entre aqueles que iniciaram a vida escolar ainda no maternal,
12,2% estão entre no estágio muito crítico
e, para aqueles que tiveram o contato com a escola somente
na 1ª série do ensino fundamental, 28,5% estão
neste estágio.
Segundo o diretor de avaliação da educação
básica, há um primeiro conjunto de fatores que
interfere no desempenho dos estudantes e diz respeito à
pobreza e à falta de acesso a bens culturais. “Neste
caso, são necessárias as políticas de
combate à exclusão”. Carlos Henrique explica
que há um outro conjunto de fatores, intrínseco
às escolas, que, para mudar, depende de diretores e
professores mais preparados, um ambiente voltado para o aprendizado
e uma comunidade escolar participativa.
Estágio adequado
Os estudantes com melhor desempenho no Saeb e que estão
no estágio adequado aparecem em maior proporção
na Região Sudeste, em cidades com mais de 200 mil habitantes
que não fazem parte das regiões metropolitanas,
estudam na rede particular ou em estabelecimentos federais
e apresentam pouco ou nenhum atraso escolar.
Ainda como características comuns, esses estudantes
têm mães e pais com maior escolaridade. Eles
declaram que a família acompanha a sua vida escolar,
não trabalham fora de casa e quando fazem algum trabalho
doméstico, essa atividade consome menos de uma hora
diária. Na sua maioria, também tiveram acesso
à educação infantil e costumam fazer
a lição de casa sempre ou quase sempre.
As informações são
do site do Inep.
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