Depois
de cinco anos de perdas para os trabalhadores, enfim as negociações
salariais das principais categorias da indústria do
país estão contemplando aumentos reais - ou
seja, acima da inflação. Em alguns casos, especialmente
nos setores ligados às exportações, os
sindicatos vêm emplacando também cláusulas
inéditas, como taxação de excesso de
horas extras. Tudo resultado do bom momento da economia, que
registrou no primeiro semestre o maior crescimento desde 2000.
Os metalúrgicos do ABC fecharam na última semana
um acordo com as montadoras de automóveis que prevê
reajuste salarial de 10% para os funcionários que ganham
até R$ 6 mil. Isso representa um aumento real de 3,6
pontos percentuais. Além disso, acertaram um limite
de 29 horas extras mensais a partir de janeiro de 2005, o
que deverá estimular novas contratações.
As empresas não ficam proibidas de utilizar o expediente,
mas, acima do teto, terão que pagar mais 75% por cada
hora extra - 130% caso seja domingo ou feriado.
José Silvestre de Oliveira, supervisor do escritório
regional do Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) em São
Paulo, ressalta o fato de que o acordo dos metalúrgicos
foi uma vitória de todas as correntes sindicais, já
que a campanha reuniu 8 mil trabalhadores, ligados à
Central Única dos Trabalhadores (São Bernardo
do Campo e Taubaté), à Força Sindical
(São Caetano do Sul e Tatuí) e à Central
Brasileira de Trabalhadores e Empreendedores (São Carlos).
"No segundo semestre, a economia tradicionalmente é
mais aquecida e há data-base de algumas categorias
que servem como paradigma para as demais", afirma Silvestre,
que espera, para as próximas negociações
salariais, resultados iguais ou melhores do que os registrados
no primeiro semestre deste ano, quando cerca de 80% dos sindicatos
conseguiu, no mínimo, reposição da inflação.
De fato, estão à mesa de negociações
com o patrões, entre este mês e novembro, algumas
das principais categorias profissionais do país, como
petroleiros, metalúrgicos (os demais de São
Paulo seguem em campanha), bancários e químicos.
Muitos vêm discutindo cláusulas que buscam reduzir
ou impor regras de conduta à terceirização
de serviços como limpeza, de forma a garantir o cumprimento
de direitos trabalhistas.
O professor Claudio Dedecca, do Centro de Estudos Sindicais
e de Economia do Trabalho (Cesit), da Unicamp, considera o
momento favorável para discussão de recomposição
salarial, mas com ressalvas.
"O desemprego permanece muito elevado e ainda há
uma ausência de definição sobre a consistência
da recuperação da economia. É preciso
saber qual será o ritmo do crescimento nos próximos
anos. Alguns setores que enfrentam dificuldades, como o de
alimentos e o de aviação comercial, terão
negociações bem mais duras do que os setores
exportadores, porque dependem do consumo interno".
As informações são
do Jornal do Brasil.
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