Trabalhadores
que freqüentaram a escola por, no mínimo, 11 anos
e com pelo menos 40 anos de idade. Esse é o perfil
profissional que o mercado de trabalho das grandes cidades
passou a exigir dos candidatos a um emprego desde o segundo
semestre de 2003, quando a economia começou a dar sinais
de recuperação.
Estudo elaborado pelo Ministério do Trabalho, ao qual
a Folha teve acesso, mostra que, entre julho de 2003 e julho
deste ano, 98% das vagas oferecidas nas seis maiores regiões
metropolitanas do país foram preenchidas por pessoas
com 11 anos ou mais de estudo -isto é, com pelo menos
o ensino médio completo.
Os dados, com base em informações da PME (Pesquisa
Mensal de Emprego) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística), revelam que 64% das pessoas que conseguiram
emprego no período tinham 40 anos ou mais.
Para a coordenadora do Observatório do Mercado de Trabalho,
Paula Montagner, a demanda por esse perfil de trabalhador
não é surpresa. "As pessoas nessa faixa
etária são justamente as que estudaram mais,
porque viveram o milagre econômico [década de
70]. Elas têm mais escolaridade, estudaram em instituições
de ensino de melhor qualidade, além de terem mais experiência",
diz.
Na avaliação da coordenadora, esse comportamento
do mercado de trabalho é típico dos períodos
de retomada do crescimento econômico. Aconteceu em 2000,
em menor escala, e se repete agora.
Em processos de recuperação da economia, o mercado
trabalho é marcado pelo excesso de oferta de mão-de-obra
e somente os mais qualificados se sobressaem.
"Nesse primeiro momento de recuperação
da economia, o mercado dá uma peneirada e escolhe quem
tem mais experiência e escolaridade", afirma.
Nas demais faixas de escolaridade, os dados revelam que houve
praticamente estabilidade. Pessoas com até oito anos
de estudo perderam postos no período (18.661 vagas).
Entre nove e dez anos de escolaridade, o crescimento do emprego
foi de apenas 30.630 vagas.
Habilidades
Além da escolaridade, ela relata que o mercado
busca pessoas mais velhas porque têm mais experiência
e habilidades. "As grandes empresas passaram por um processo
de enxugamento muito intenso. Pessoas qualificadas perderam
emprego. Agora, esses trabalhadores agregam um valor que médias
e pequenas empresas querem aproveitar", diz Montagner.
Na faixa entre 10 e 21 anos, a geração de empregos
no período julho/2003-julho/2004 foi de 67.324 postos
(8,6% do total). Entre 22 e 39 anos, o contingente foi maior:
215.817 postos, o que representa 27%.
Na avaliação da coordenadora, embora os dados
do IBGE sejam restritos às seis regiões metropolitanas,
esse fenômeno deve estar acontecendo de forma generalizada
nas grandes cidades. "Eu diria que pelo menos nas 22
regiões metropolitanas", acrescenta.
Montagner afirma que as exceções ficam por conta
dos empregos gerados no setor agrícola, na indústria
extrativista e de transporte. "No Nordeste, a exigência
também pode ser um pouco menor do que no restante do
país", afirma.
Tempo de espera
Apesar da recuperação do emprego, a
coordenadora afirma que ainda é preocupante o tempo
que os desempregados passam procurando uma ocupação.
De julho de 2003 para julho de 2004 cresceu o número
de trabalhadores que deixaram ou perderam o emprego há
mais de 12 meses. Em 2003, eles representavam 55,6% do total
de desocupados. Em 2004, passaram para 61,3%.
"A nossa rede de proteção social não
está preparada para isso. O desemprego não recebe
o seguro-desemprego durante todo esse tempo. Eles contam com
uma estratégia familiar para sobreviver."
Os dados mostram ainda que o número de desocupados
há menos de 12 meses caiu. De 38,5% do total de desempregados
para 33,1%. A desocupação há menos de
30 dias ficou praticamente estável: de 5,8% para 5,4%.
JULIANNA SOFIA
da Folha de S.Paulo
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