SÃO
PAULO - O consumidor se endividou mais no Natal, acreditando
que a recuperação da economia viria mais rapidamente,
avaliou o economista Carlos Henrique de Almeida, da Serasa,
empresa de análise financeira. O índice de inadimplência
com cheques sem fundos aumentou 2,6% em fevereiro.
Levantamento feito pela Serasa mostrou que a cada mil cheques
compensados 16 foram devolvidos por falta de fundos. É
o índice mais alto para um mês de fevereiro desde
1991, quando a pesquisa começou a ser feita. No mês
passado, foram compensados em todo o país 158,4 milhões
de cheques, dos quais 2,53 milhões foram devolvidos
por falta de fundos.
Para Almeida, o comportamento da inadimplência com
cheques será semelhante ao de 2003, quando as compras
feitas no Natal refletiram em aumento nas taxas de inadimplência
durante todo o primeiro semestre. O motivo, diz ele, é
que a queda do juro ainda não mudou a situação
da renda e do emprego.
"A inadimplência só cai quando melhora
a renda e as empresas voltam a contratar. Mas a criação
de empregos só deve ocorrer no segundo semestre, pois
as empresas usam primeiro a mão-de-obra que já
está empregada, ocupando capacidade ociosa", explica.
O economista da Serasa diz que o aumento do número
de cheques sem fundo não muda a situação
da inadimplência geral, que pode estar em queda. Segundo
ele, o consumidor continua contraindo crédito bancário
para acertar dívidas em atraso. No primeiro bimestre
deste ano o crédito bancário teve aumento real
de 1,67% (3,06% sem descontar a inflação), que
não teve contrapartida no consumo. O cheque representa
36% da inadimplência total e a taxa de inadimplência
na modalidade é de 1,6%, considerada aceitável.
"Não há um repique geral de inadimplência",
afirma Almeida.
O pico de inadimplência com cheques ocorreu em maio
de 2003, quando a cada mil cheques compensados 17,6 foram
devolvidos sem fundos. Foi o recorde de devoluções,
sob todos os aspectos de comparação, desde a
criação do indicador, em 1991. A média
anual em 2003 também foi recorde, de 15,5 cheques devolvidos
a cada mil compensados.
ROBERTO SAMORA
do Globo Online
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