Um estudo
feito por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista)
e da USP (Universidade de São Paulo) apontou uma série
de problemas em bulas de medicamentos usados no tratamento
de rinites (inflamação da mucosa nasal).
Letras pequenas e ilegíveis e o uso de termos técnicos
e abreviaturas, que dificultam a compreensão do texto
por parte do usuário, são alguns dos problemas
relacionados pela pesquisa.
Hoje, termina o prazo dado pela Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária) para que os laboratórios
encaminhem novos projetos de bulas com as regras estabelecidas
pelo órgão na Resolução 140,
de junho do ano passado. A nova legislação
prevê letras maiores e o uso de linguagem mais simples
no item que relaciona as informações ao paciente.
As bulas passarão por uma análise.
Os pesquisadores analisaram bulas de 25 medicamentos, entre
genéricos e marcas de referência (remédios
convencionais). Eles só revelaram os princípios
ativos dos medicamentos, não os nomes comerciais nem
os fabricantes.
O estudo constatou que 18 bulas foram impressas com letras
muito pequenas, inferiores ao tamanho considerado ideal (fonte
Arial corpo oito) para os textos. Outras quatro bulas foram
grafadas em letra azul. De acordo com uma das autoras do
estudo, a otorrinolaringologista Aracy Balbani, esses fatores
dificultam a leitura, principalmente para pessoas com problemas
visuais e idosos.
O estudo indicou que seis das bulas analisadas usaram termos
técnicos no item informação ao paciente.
Em uma delas, por exemplo, foi usada a expressão "coceira
no palato", que, para os pesquisadores, deveria ser
substituída por "coceira no céu da boca",
de uso coloquial.
Outra bula apresentava o termo "ação
anti-histamínica", que, de acordo com os pesquisadores, é o
mesmo que efeito antialérgico.
Para Balbani, o abuso de termos técnicos nas informações
para pacientes é "grosseiro". "Em um
país onde há muitas pessoas com baixa escolaridade,
as bulas precisam ter linguagem coloquial e desenhos para
facilitar a compreensão", afirmou.
O estudo descobriu também que 15 das 25 bulas analisadas
não apresentavam informações sobre reações
adversas ou possíveis alterações de
exames laboratoriais que podem ser provocadas.
Em 13 bulas, foi verificada a ausência do sub-item "pacientes
idosos" na informação técnica (para
médicos). Os pesquisadores também constataram
a utilização de abreviaturas no item informação
ao paciente. Em uma bula, estava escrito SNC em vez de sistema
nervoso central.
Contradições
Os pesquisadores encontraram em uma mesma bula orientações
confusas para médicos e pacientes. Para o paciente,
por exemplo, havia a orientação para que não
utilizasse o produto por "longos períodos".
Já a informação técnica dizia
que o uso por mais de duas semanas era desaconselhável.
Os textos podem confundir usuários, dizem pesquisadores.
Ao comparar as bulas de duas marcas de um mesmo medicamento,
os autores do estudo descobriram discrepâncias em informações
sobre o uso na gravidez.
Uma bula indicava que seu uso não era recomendado
durante a gestação. A outra informava que poderia
ser usado na gravidez, desde que o benefício para
a mãe justificasse o risco para o feto.
MARIO HUGO MONKEN
da Folha de S.Paulo
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