De um
lado, crianças ansiosas por uma nova família.
De outro, uma fila de casais interessados em adotar um filho.
Entre eles, uma demora que pode chegar a anos. Para o juiz
Siro Darlan, da 1ª Vara da Infância e da Juventude
do Rio de Janeiro, a justificativa do descompasso é
o preconceito.
Segundo o juiz, dados mostram que 83% dos 229 habilitados
para a adoção no Rio querem bebês de até
um ano. Nenhuma das 151 crianças disponíveis
tem esse perfil; 86% têm mais de seis anos.
"Essa conta [da demora no processo de adoção]
deve ser debitada no preconceito das pessoas e não
na Justiça", afirmou Darlan.
Devido a uma portaria do juiz, desde terça, casais
interessados em adotar crianças de até quatro
anos não podem mais escolher sexo e cor. A suspensão
vale por um ano. Cadastros feitos anteriormente não
serão afetados.
Repercussão
A decisão gerou controvérsias. "Ninguém
pode interferir na forma como as pessoas querem adotar seus
filhos", afirmou Antonio Monteiro de Souza, coordenador
da ONG Excola, que atende, entre outros, jovens que, ao completar
18 anos, têm que sair dos abrigos. "São
meninos que ninguém adotou, por preconceito. Mas essas
questões não serão resolvidas com uma
canetada."
O policial militar aposentado Moacir José Ferreira,
69, também critica a medida. Para ele, uma solução
seria oferecer estímulos. Há nove meses, ele
adotou Mássimo, de nove anos, que tem problemas mentais.
"Tinha tentado isso antes, mas disseram que meu salário
não era suficiente para sustentar mais um filho",
disse.
A adoção, segundo ele, foi possível
devido ao programa "Um Lar Para Mim", da Secretaria
de Estado de Ação Social, que oferece ajuda
financeira a funcionários estaduais que adotarem crianças
mais velhas ou deficientes.
Para a diretora-executiva da ONG Terra dos Homens, Claudia
Cabral, a decisão do juiz é correta. "Ele
mostrou como a adoção tardia e inter-racial
é importante", afirmou Cabral.
A educadora aposentada Marli Sousa, 69, também aprova
a suspensão. "Se ele não fizesse isso,
as crianças continuariam crescendo em orfanatos."
Ela tem dois filhos adotados, um que chegou à sua casa
com nove e outro com 12 anos, e diz que a adaptação
realmente é mais difícil quando a criança
é mais velha.
AMARÍLIS LAGE
da Folha de S.Paulo
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