Concursos
de projetos com prêmios em dinheiro e em produtos, treinamentos,
slogans, divulgação e horas livres no expediente.
Mecanismos tipicamente usados para estimular a performance
de vendas e de outras áreas "agressivas"
começam a aparecer também nos programas corporativos
de estímulo ao voluntariado.
De acordo com gestores e consultores, as companhias percebem,
na adesão de funcionários a serviços
voluntários -ações não remuneradas
em escolas, hospitais e organizações não-governamentais-,
um meio de aperfeiçoar habilidades como liderança
e trabalho em equipe. "Um programa estruturado traz a
oportunidade de treinar os funcionários", afirma
Andrea Goldschmidt, da consultoria Apoena Social.
Rosangela Coelho, assessora de responsabilidade social da
Embraco, confirma: "Muitos funcionários desenvolvem
habilidades que os tornam mais qualificados para suas funções,
como capacidade de lidar com desafios e situações
novas".
Há ainda elevação da produtividade, com
aumento da motivação dos empregados. "Empresas
que se envolvem em projetos sociais tendem a reduzir a rotatividade
e aumentam o compromisso de empregados e "stakeholders"
com a corporação", diz Silvina Ramal, professora
da FGV Management.
Para o gerente de programas especiais da Fundação
Belgo, Leonardo Gloor, a maior motivação dos
empregados "favorece o clima organizacional e melhora
a relação da empresa com a comunidade".
Sirlene Toledo, executiva de relações comunitárias
da IBM, vê "elevação da qualidade
do capital humano" em virtude do estímulo ao trabalho
em grupo e da melhora da auto-estima do funcionário,
que se sente útil à sociedade.
"Faz a empresa crescer aos nossos olhos", diz Raquel
Casimiro, analista contábil da Bunge que conta histórias,
numa escola estadual de São Paulo, para os alunos da
1ª à 4ª série, a fim de incentivar
a leitura e elevar o interesse pela aula.
Sintonia
Pesquisa do Ipea sobre ação social, publicada
em novembro de 2001, indica que um terço das empresas
brasileiras incentiva, de alguma forma, ações
de voluntariado por parte de seus empregados. Nas empresas
com mais de cem funcionários, o índice sobe
para 40%.
Conforme Anna Peliano, diretora de estudos sociais do instituto,
as companhias afirmaram que o engajamento em atividades voluntárias
leva à preferência em processos de contratação
e em promoções. "As empresas informaram
que os funcionários ficaram mais sintonizados com a
missão da companhia. E que houve melhora no relacionamento
dos empregados com as chefias."
Parte das companhias libera os funcionários para ações
voluntárias por algumas horas durante o expediente,
como a Phillips. Luiz Delboux, analista de marketing de relacionamento
da empresa, dispõe de 4 horas mensais para ir a uma
escola pública atuar na conscientização
de estudantes sobre a sexualidade. "E a empresa paga
nosso transporte até lá."
Algumas empresas selecionam as iniciativas a serem apoiadas.
A TRW, por exemplo, adotou um projeto de profissionalização
na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais):
instalou uma linha de montagem na instituição
e libera algumas horas de expediente para que os funcionários
ensinem os aprendizes.
Outras incentivam os empregados a apresentar os projetos com
os quais se identificam para obter o benefício de horas
livres, apoio material e, em algumas vezes, prêmios
revertidos para as entidades apoiadas.
É o caso do Carrefour, que instituiu prêmios
num total de R$ 31,5 mil. No Wal Mart, a recompensa chega
a R$ 50 mil. Nos dois, os voluntários concorrem, mas
são as entidades que levam os recursos. Na IBM, ao
completar 40 horas de ação voluntária,
o funcionário ganha equipamentos para a instituição
atendida. Na Alcoa, 50 horas de voluntariado fora do expediente
valem uma doação de US$ 250 à instituição.
Juliana Garçon
dos site da Folha Online.
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