Por meio
de clubes de investimentos ou buscando diretamente as corretoras,
as mulheres começam a ampliar o peso de sua participação
no mundo financeiro.
Dos aproximadamente 120 mil investidores individuais catalogados
atualmente pela CBLC (Câmara Brasileira de Liqüidação
e Custódia), mais ou menos 20% -algo em torno de 24
mil- são mulheres. No final da década de 90,
as mulheres não respondiam por mais de 10% da categoria
de investidor pessoa física.
No caso do BankBoston, por exemplo, as mulheres já
representam 36% da base de investidores.
Não é difícil encontrar hoje clubes de
investimentos formados apenas por mulheres. Atenta a isso,
a Bovespa até já criou um programa de popularização
do mercado de ações dirigido apenas ao público
feminino.
E não são apenas mulheres ligadas profissionalmente
ao mercado financeiro que estão atentas ao investimento
em ações.
Em 1998, um grupo de 14 professoras aposentadas se reuniu
para começar a aplicar na Bolsa. Em 2001, elas resolveram
institucionalizar o processo e montaram um clube de investimentos,
com o apoio técnico de uma corretora. Hoje, 42 mulheres
formam esse grupo, batizado de Clube de Investimento Entre
Amigas.
"Costumamos nos reunir pelo menos uma vez por mês
no sindicato [dos supervisores de ensino] para discutirmos
o andamento dos investimentos. Não quero nem ouvir
falar em caderneta de poupança ou renda fixa",
afirma Rosegleyde Rocha, 60, uma das fundadoras do clube.
E as apostas das mulheres investidoras no mercado têm
se mostrado certas.
O "Feng Shui", administrado pela corretora Socopa,
é um clube de investimentos formado há um ano
por professoras e alunas de uma escola da milenar técnica
chinesa. Neste ano, o clube -que conta com 30 mulheres de
variadas idades e profissões- já conseguiu rentabilidade
em torno de 14%. A poupança tem retorno de 6% no ano,
e os fundos de renda fixa ganho médio de 10,8%.
Criado no início de 2003, o clube de investimentos
Vespi já deu neste ano uma expressiva rentabilidade
de 58%. O Vespi foi formado por mulheres que jogavam tênis
no Clube Alto de Pinheiros. Recentemente, alguns homens têm
entrado no clube, mas 80% dos 45 participantes ainda pertencem
ao público feminino.
A advogada Adelaide Cirillo Maluf, 56, diz que, se ela não
tivesse se associado às amigas, "possivelmente
não investiria na Bolsa". "Estamos todas
muito entusiasmadas. O retorno que temos conseguido com o
Vespi é muito superior aos ganhos de aplicações
mais tradicionais. O importante é ter consciência
de que o investimento em ações é a longo
prazo. Não pode sair correndo apenas porque a Bolsa
caiu em determinado mês", diz Adelaide.
É o comportamento de quem não tem o costume
ou a visão de Adelaide: aplicar quando a Bolsa sobe
e sair quando ela cai, perdendo dinheiro com a variação
negativa. Ao dar o depoimento, Adelaide mostra que aprendeu
como lidar com esse mercado.
Por meio de clubes de investimentos, as mulheres têm
encontrado uma forma de participar ativamente do mercado:
compartilham conhecimento, juntam seus recursos e montam uma
carteira com vários tipos de ação.
Rosegleyde dá até uma dica: "É um
bom momento para aplicar em ações de siderurgia".
Expansão
"Com o crescimento da participação
das mulheres no mercado de trabalho, é importante que
elas passem a ampliar seus horizontes quando o assunto é
economizar e investir", diz Angela Barros, uma das coordenadoras
do programa "Mulheres em Ação" da
Bovespa.
As mulheres representam atualmente quase metade -mais precisamente
44,6%- da PEA (População Economicamente Ativa),
segundo o IBGE. Em 2000, elas respondiam por 41% da força
de trabalho no país.
No "Folhainvest em Ação" -pregão
virtual promovido pela Folha com o apoio da Bolsa-, há
uma mulher para cada quatro participantes homens computados.
E o desempenho de suas carteiras tem se destacado.
Além da liderança do simulado deste mês
estar nas mãos de uma mulher, outras duas aparecem
entre os dez participantes com melhor rentabilidade acumulada
em setembro.
FABRICIO VIEIRA
da Folha de S.Paulo
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