Entre
os dias 12 e 15 de janeiro, o glamour da moda vai invadir
novamente a cidade maravilhosa. É a sexta edição
do Fashion Rio/Fashion Business, que vai ocupar o Museu de
Arte Moderna (MAM) e atrair todas as atenções
para a forma das pessoas se vestirem, ditando as tendências
do outono/inverno 2005. Mas ao lado de todo o luxo característico
do evento, pela segunda vez, desponta uma pequena preocupação
com a inclusão social. Trata-se do Projeto Arte Indústria,
que vai levar os trabalhos produzidos por artesãos
de quatro organizações sociais - Criola, Fuxicarte,
Coosturarte e Ação Comunitária do Brasil
- ao "mundo das celebridades".
O Arte Indústria foi idealizado a partir de discussões
feitas entre a assessoria de Responsabilidade Social do Sistema
Firjan (Federação das Indústrias do Estado
do Rio de Janeiro) e as ONGs Criola e Centro Integrado de
Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável
(CIEDS). Conforme explica Isabella Nunes, chefe da assessoria
de Responsabilidade Social da Firjan, o objetivo dos debates
era entender como os empreendimentos sociais formais poderiam
tornar-se alternativas de geração de renda e
redução das desigualdades sociais, e de que
forma a Firjan poderia facilitar o acesso desses empreendedores
ao mercado da moda, já que é um dos patrocinadores
do Fashion Rio.
Então, desenhou-se o projeto. A idéia era
procurar designers e estilistas de destaque para apoiar as
organizações sociais, orientando-as sobre como
adequar os produtos que já desenvolviam às exigências
do público do evento. Além disso, as organizações
receberiam um curso de formação, com informações
sobre como comercializar os produtos no atacado e no varejo
(tanto no mercado interno como no internacional), como definir
preços, negociar com compradores, e multiplicar as
técnicas artesanais para a comunidade, de tal forma
a compor um grupo de produção.
Em maio de 2004, além da Criola, a Cooperativa de
Costura Artesanal - Coosturart (uma cooperativa de costureiras
de Santa Cruz, na zona Oeste do Rio) e o Fuxicarte (um grupo
socioeconômico, que produzir diversas peças com
a técnica do artesanato), receberam assessoria das
estilistas Daniela Martins e Luiza Marcier – indicadas
pela Dupla Assessoria, um dos organizadores do evento.
A experiência deu tão certo na Fashion de julho,
que a Firjan resolveu ampliar a iniciativa. Com recursos do
Fundo de Desenvolvimento Social FIRJAN/IAF -Interamerican
Foundation e do Centro Industrial do Rio de Janeiro, ONG Ação
Comunitária do Brasil pôde juntar-se ao projeto,
bem como as estilistas Verônica D'Orey e Kátia
Wille.
Atualmente, cerca de 70 artesãos estão envolvidos
no projeto. Rosa Maria da Silva Brum, que trabalha como costureira
da Coosturart há 2,5 anos, participou da edição
passada do Fashion Business e vai participar de novo. Ela
diz que está muito orgulhosa de poder participar do
Fashion Rio e que o Projeto Arte Indústria aumentou
não só sua auto-estima, mas do grupo todo. Rosa
conta que, em alguns meses, a cooperativa consegue arrecadar
uma boa renda, em outros menos. Mas se diz confiante e espera
que a sexta Fashion Rio seja melhor do que a anterior para
as organizações.
Produtos aliados à causa
Os artigos produzidos pelas ONGs estão em sintonia
com o trabalho social que desenvolvem. Assim, a Criola trabalha
com produtos com forte identidade afro-brasileira. A Coosturart
está criando peças que resgatam a cultura da
comunidade de Santa Cruz, a Ação Comunitária,
a história da Cidade Alta, e a Fuxicarte, experiências
dos moradores das comunidades das regiões Norte e Oeste
do Rio.
A estilista Verônica d'Orey, há três
meses, acompanha o trabalho de duas artesãs da Criola.
Ela conta que o trabalho é desenvolvido em conjunto.
"A criatividade e experiência das artesãs
devem ser respeitadas", afirma. Por isso, Verônica
não desenha sozinha a coleção. Ela apenas
orienta as artesãs a aprimorarem os artigos, a fim
de que elas consigam atender o público do evento. "As
artesãs estão acostumadas a criar peças
de um certo tipo para atender um determinado público.
No Fashion Business, o público é diferente.
As peças precisam ser elaboradas para atingirem um
público com maior poder aquisitivo. Assim, o acabamento
deve ser melhor. Isso permite aumentar o custo unitário
do produto", explica.
Ela considera que as artesãs estão crescendo
bastante, pois estão compreendendo a importância
de se pesquisar temas, materiais, idéias para produzir
peças originais. Ela acredita que isso "elas vão
levar para a vida, independente da continuidade do projeto".
Além disso, acredita que a multiplicação
das técnicas artesanais e de outros conceitos para
a comunidade vai permitir que as ONGs ampliem sua renda. "Na
edição passada do evento, as organizações
tiveram muitas encomendas, mas não conseguiram atender
a demanda. Agora, isso deve ser resolvido", aponta.
Claudia Pereira da Siqueira, presidente da Coosturart, diz
que um dos principais resultados do Fashion Busines de julho,
foi a ampliação da visibilidade da organização.
Ela diz que o projeto Arte Indústria "era o que
a gente precisava", pois faltava à cooperativa
informações sobre como comercializar os produtos
de forma mais profissional. "Claro que muitas coisas
a gente aprende na prática, mas o conhecimento teórico
é muito importante porque faz com que a gente tenha
que sofrer menos com as dificuldades que aparecem", afirma.
Ela ainda diz que c projeto contribuiu para que a Coosturart
percebesse que estava no caminho certo. "Atingir um público
como o do Fashion Rio significa consolidar aquilo em que acreditávamos.
O projeto permitiu que a gente sentisse que vale a pena continuar",
resume.
Para Lúcia Xavier, coordenadora da Criola, que há
12 anos vem pensando a melhor forma de articular as artesãs
para a inserção no mercado de trabalho e geração
de renda, além de pautar uma discussão sobre
o racismo, discriminação, sexismo e homofobia
na sociedade, o Fashion Rio também deu maior visibilidade
à ONG, aumentou a auto-estima das mulheres, a comercialização
dos produtos e intensificou a preocupação com
a qualidade do produto.
Ela diz que a expectativa para esta edição
do evento é investir em marketing, a fim de que o produto
tenha uma saída melhor, transformando o investimento
de seis meses da organização em retorno financeiro.
Embora a ONG trabalhe, indiretamente, com 63 artesãos
(a maioria mulheres) e com 27 regularmente, do evento participam
apenas 5 artesãos, que vão apresentar assessórios
e bolsas, feitos em diversas técnicas.
Hoje, cerca de 70% da renda familiar dos artesãos,
de acordo com Lúcia, é proveniente da venda
dos artigos produzidos por intermédio da ONG. A renda
arrecadada com a venda dos produtos é revertida, em
sua integridade, para as artesãs, mas a idéia
é que, em breve, seja suficiente para garantir a sustentabilidade
da ONG.
O futuro do Projeto Arte Indústria ainda é
incerto. De acordo com Isabella Nunes, sua continuidade e
ampliação dependerá da captação
de recursos. E esse esforço deverá ser feito
em conjunto com as ONGs.
LAURA GIANNECCHINI
do site Setor3
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