Nos últimos dois anos, a
produtora de vídeo Isabel Rodrigues Sassano, 29, encara
quase todos os dias uma doce rotina com os filhos Lucas, 9,
e Gabriel, 3. Saem de casa em Perdizes (zona oeste de São
Paulo) e vão passar momentos de curtição
na praça que fica em cima do reservatório de
água do Araçá, no mesmo bairro.
As crianças brincam, correm, fazem novos amigos e
rolam na grama com a mãe. "Sei de gente que vem
aqui na hora do almoço só para ficar por 15
minutos e desestressar", diz, deitada sob o sol.
Ao fundo, as antenas de TV lembram que a cena, por mais bucólica
que seja, se passa na cidade de São Paulo. Mostra também
que, nos bairros, as praças assumem funções
de playground, distração para idosos, refúgio
de namorados e ponto de encontro.
Transformam-se numa alternativa de lazer que dá à
maior metrópole do país um ar de interior.
A Folha passou por 128 praças nas cinco regiões
da capital e listou 15 boas alternativas.
"Ir todos os dias à mesma praça, sentar
no mesmo banco, sentir o cheiro das mesmas flores e admirar
o mesmo jardim não tem nada de monótono",
diz a professora Joyce Arruda, 50, que anda diariamente na
praça do Coreto, no Rio Pequeno (zona oeste).
Envolvimento local
Bem cuidadas, muitas das praças de áreas nobres
da cidade são alvo de convênios de manutenção
entre a prefeitura e entidades de bairro, escolas ou empresas.
"O envolvimento da comunidade também é
fundamental", diz Carlos Afonso, 31, supervisor de Administração
de Clubes e Distritos do Rotary Internacional do Brasil. A
entidade adota muitas praças e, segundo Afonso, a razão
é simples. Elas unem duas esferas de preocupação
da entidade: a ambiental e a de serviços.
É a iniciativa privada que cuida das praças
Pereira Coutinho, na Vila Nova Conceição, e
General Enéias Martins Nogueira, no Brooklin Novo (zona
sul). Na primeira, o convênio é com o Instituto
Unibanco; na segunda, diversas empresas equiparam a praça.
"Venho sempre aqui porque é um oásis.
Quando posso, trago até trabalho. Sento na sombra,
compro água gelada e confiro as planilhas", diz
a contadora Maria Lúcia Monteiro, 30, na praça
General Enéias Martins Nogueira.
Quem não tem cão...
Mas as praças não deveriam ser um substituto
dos parques urbanos (como o Ibirapuera), adverte a arquiteta
e paisagista Rosa Grena Kliass. Como espaços abertos,
elas contribuem para conferir caráter aos centros urbanos,
mas, no fundo, têm a mesma função das
vias públicas: circulação e acesso às
áreas construídas.
Têm também um aspecto social, de ante-sala para
prédios importantes -a praça do mercado, do
teatro.
Na prática, porém, acabam suprindo mesmo uma
carência de áreas verdes de lazer, como ocorre
na zona leste da cidade, que tem o menor índice per
capita de árvores da cidade. Praças como a José
Giudice (Tatuapé) contribuem para amenizar a temperatura
da região, alta pela concentração de
concreto e asfalto.
Outras, como a Dr. Sampaio Vidal (Vila Formosa, zona leste),
Oscar da Silva (Vila Guilherme, zona norte), General Milton
Tavares de Souza (Parque Novo Mundo, zona norte) e Largo Coração
de Jesus (Campos Elíseos, centro), viraram o principal
local de diversão, com pistas de skate, brinquedos,
mesas para jogos de tabuleiro e campos de futebol.
"Numa cidade como São Paulo, você precisa
ter uma área próxima, pelo menos para tomar
um sol de manhã, ou enlouquece. Praças são
sinônimo de qualidade de vida", afirma a urbanista
Regina Monteiro, presidente do movimento Defenda São
Paulo.
Voltando à praça do Araçá (Perdizes),
o músico Cassio Gregório, 26, toca seu violão.
"Venho aqui para me inspirar", diz. Deficiente visual,
ele diz que não precisa ver a praça para isso,
apenas ouvir o canto dos passarinhos.
MARIANA VIVEIROS
da Folha de S.Paulo
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