O Brasil começa a dar os primeiros passos na criação de
moradias e serviços hospitalares voltados para a terceira
idade, a exemplo do que existe na Europa e nos Estados Unidos.
No país, há cerca de 15 milhões de pessoas
com mais de 60 anos, quase 9% da população,
segundo o IBGE.
Amanhã, o Hospital Israelita Albert Einstein, de São
Paulo, inaugura oficialmente uma enfermaria geriátrica,
com 17 leitos projetados especialmente para idosos acima de
65 anos -que representam hoje 24% dos pacientes da instituição-,
um investimento de R$ 5 milhões.
Modelo pioneiro no país, o espaço tem inovações
em engenharia e design hospitalar, como barras de segurança
em toda a extensão do quarto, chão construído
com material que absorve o impacto em casos de quedas e criado-mudo
que se transforma em mesa, além de uma equipe multidisciplinar
(médicos, enfermeiros, entre outros) treinada para
cuidar de idosos.
O empresário Pietro Petrosino, 83, foi um dos primeiros
pacientes a nova ala, antes mesmo da inauguração
oficial. Ele diz que as barras que circundam todo o quarto
são úteis para a locomoção, especialmente
na hora de ir ao banheiro à noite. "Sem ter onde
me apoiar fico meio confuso."
Segundo o médico Fábio Nasri, coordenador da
área geriátrica do Albert Einstein, a maioria
das quedas de idosos dentro de hospitais ocorre a dois ou
três passos entre a cama e o banheiro.
No mercado imobiliário, crescem a chamadas "assisted
living facilities" (moradias assistidas), que aliam estrutura
de condomínios ou hotéis de luxo a serviços
de saúde e entretenimento. Há moradias desse
tipo em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre (RS),
Uberaba (MG) e Salvador (BA), com mensalidades que vão
de R$ 2.000 a R$ 5.000, dependendo dos serviços oferecidos.
Na última quinta-feira, foi inaugurado o mais recente
empreendimento na capital: o Saint Charbel, um flat com 92
apartamentos, próximo ao hospital Sírio Libanês,
na região da avenida Paulista, projetado para receber
idosos saudáveis ou com dificuldades de locomoção,
com serviço de home care 24 horas, enfermaria, spa
urbano, piscina etc. A mensalidade será em torno de
R$ 2.300, mais 5% de taxa de administração.
Em comum, as moradias assistidas têm também
pisos antiderrapante, banheiros com alças de apoio
e com espaço para cadeira de rodas, botões de
emergência espalhados pelos cômodos e serviços
de saúde 24 horas para casos de emergência.
Esse tipo de habitação é muito freqüente
nos EUA. Um estudo realizado em 2000 pela organização
norte-americana Centro Nacional de Moradia Assistida mostrava
que cerca de 800 mil americanos, com idade média de
80 anos, já habitavam os 33 mil complexos de moradias
assistidas.
Em São Paulo, o Residencial Santa Catarina, na região
da av. Paulista, funciona há quatro anos, tem 125 apartamentos
e uma taxa de ocupação de 80%. O aluguel mensal
é em torno de R$ 5.000.
"É um projeto futurista para o Brasil. Temos
uma cultura de muito apego entre pais e filhos, mas, aos poucos,
isso está mudando", diz Branko Granatic, gerente-executivo
do residencial.
Na opinião do médico Luiz Roberto Ramos, chefe
do departamento de estudos do envelhecimento da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo), as moradias assistidas são
uma boa solução para o idoso sem família
ou para aqueles cujos filhos não têm tempo de
cuidar deles. "Ter um idoso morando com os filhos nunca
é uma situação ótima. Nem para
um nem para outro", diz.
Ramos lembra, porém, que apenas uma minoria de idosos
tem condições financeiras de bancar os custos
de uma moradia assistida. A maioria deles ajuda os filhos
e, muitas vezes, a renda da aposentadoria é a única
da família.
Mas é possível dar um pouco mais de segurança
aos idosos mesmo em casa, fazendo as adequações
estruturais necessárias. Desobstruir o espaço,
instalar uma barra de apoio no banheiro, adequar a altura
do vaso sanitário, entre outros cuidados, podem ajudar
a evitar quedas.
Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto,
da USP, mostra que as quedas são responsáveis
por 12% dos óbitos na terceira idade e que 30% dos
idosos caem ao menos uma vez por ano.
CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo
|