Nem álcool, nem drogas.
Diferentemente do que muitos pais imaginam, a dependência
química está longe de ser o problema que mais
afeta a saúde dos adolescentes paulistas. Quem ocupa
o primeiro lugar no ranking das dez doenças mais freqüentes
nos jovens de São Paulo é o grupo dos distúrbios
psicológicos que incluem desde a depressão,
o déficit de aprendizado, distúrbios alimentares
até as dificuldades sexuais. O problema atinge cerca
de 35% dos adolescentes.
Os dados fazem parte de um levantamento
feito pelo Programa de Atenção Integral à
Saúde do Adolescente, da Secretaria Estadual de Saúde,
com base em cerca de 300 mil fichas de pacientes cadastrados
no sistema. O trabalho revelou que praticamente um em cada
cinco jovens atendidos na rede pública de saúde
apresenta problemas respiratórios. A asma e a pneumonia
ficam com a segunda colocação na lista de doenças
mais comuns (veja quadro. A soma total não é
100% porque o mesmo paciente pode estar em atendimento para
doenças diferentes como depressão e asma).
O outro calcanhar-de-aquiles da saúde
dos jovens, apontado pelo estudo, diz respeito às doenças
sexualmente transmissíveis. Cerca de 15% dos adolescentes
que chegam aos serviços especializados têm pelo
menos uma DST. “Com exceção das doenças
respiratórias, os outros problemas são causados
principalmente pela baixa auto-estima, que leva à depressão
ou a uma vida sexual de risco”, afirma Albertina Duarte,
coordenadora do programa.
Durante dez anos de trabalho na Casa
do Adolescente, um ambulatório especializado em jovens,
a médica percebeu que a dificuldade de sociabilização
na escola é um dos motivos que tem deixado os adolescentes
tristes e deprimidos. “Sempre digo que a principal doença
do adolescente é a falta de acolhimento”, diz
a médica.
Vítima da depressão
desde os 12 anos, a estudante Fernanda Martins de Freitas,
de 16 anos, começou a ter crises freqüentes depois
de mudar de colégio. “A terapia me ajudou bastante,
mas ainda preciso tomar medicamento para controlar o problema”,
conta a adolescente, que encara a depressão com bastante
naturalidade.
A estudante, que participou durante
anos da Oficina de Sentimentos, um dos grupos de discussão
da Casa do Adolescente, ainda sofre com um problema comum
entre as jovens brasileiras: a cólica menstrual. De
acordo com Thereza De Lamare Franco Netto, coordenadora do
Programa de Saúde do Adolescente e do Jovem, do Ministério
da Saúde, quase metade das meninas atendidas pela rede
pública tem algum distúrbio ginecológico
ou sexual.
“Além dos problemas emocionais,
as garotas são as principais vítimas de DSTs,
inclusive do vírus HIV, e de disfunções
sexuais”, comenta Thereza. No ano passado, a Coordenação
Nacional de DST e Aids registrou no país 43 novos casos
da doença entre meninos de 13 a 19 anos e 187 entre
as meninas.
Prazer
Uma pesquisa feita pela Secretaria Estadual da Saúde
de São Paulo demostrou que 48% das garotas com vida
sexual ativa não sente prazer na relação.
“Muitas sentem dor, mas se privam de conversar com o
companheiro por vergonha, medo e insegurança, típicos
da idade”, acrescenta Albertina.
Mas as inquietações
com a sexualidade estão longe de ser exclusividade
da população jovem feminina. Os garotos também
podem ter problemas sérios com o tema. “Sempre
andei com as meninas na escola. Mas quando os garotos começaram
a me chamar de gay, fiquei meio confuso. Até me perguntei
se eu era homossexual”, lembra o estudante Luiz Fernando
Soares, de 14 anos, que agora brinca com o assunto e diz ter
vários amigos.
Há três meses namorando
com uma antiga colega de infância, o estudante conta
que procurou uma psicóloga depois de ter problemas
na escola, também com colegas. “Um menino me
ameaçou com uma arma porque eu beijei sua namorada”,
conta Fernando, que ficou dois meses sem sair de casa com
trauma.
Crescimento
Outra preocupação dos médicos com relação
à saúde dos jovens diz respeito ao crescimento.
“Estes problemas poderiam ser diagnosticados e evitados
na infância. Por isso, o ministério está
reforçando a atenção nos postos”,
diz Thereza.
LUCIANA SOBRAL
do Diário de S.Paulo
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