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O rio,
morto no trecho da Capital, está sendo despoluído
e será navegável, inclusive para barcos de turistas
— mas ficará para sempre com cara de canal e
jamais poderá sediar provas de nado e remo, como no
início do século 20.
Há pouco mais de meio século, as águas
do Rio Tietê recebiam famílias inteiras em busca
de lazer e eram palco de disputadas competições
de remo. Essas imagens jamais se repetirão e permanecerão
como memória paulistana apenas nas fotografias antigas.
Na mais otimista das visões do futuro, o tradicional
rio paulista aparece como um canal reto, cercado por jardins
e com suas margens inclinadas (taludes) feitas de cascalho.
Por ele trafegarão barcaças de carga e embarcações
turísticas.
Visualmente, os 24,5 km do Tietê que cortam a cidade
de São Paulo estarão totalmente diferentes já
no segundo semestre de 2004. As obras de combate às
enchentes do Departamento de Águas e Energia Elétrica
(Daee) do estado estão aprofundando o leito do rio
em até 2,5 metros e aumentando a distância entre
suas margens, em alguns trechos, para 45 metros.
Esse conjunto de obras entregará aos paulistanos um
rio com cara de canal. O Tietê esculpido pela natureza
durante milhares de anos, com dezenas de curvas numa área
de várzea onde naturalmente ocorriam enchentes, ficou
para trás, perdido no início do século
20; o Tietê deste século será resultado
da metamorfose pela qual o Planalto de Piratininga passa desde
1554.
No rio do futuro, o governo do Estado quer investir no transporte
de carga — aliviando o trânsito da cidade —
e em passeios turísticos pelo trecho entre a Barragem
da Penha, na Zona Leste, e o Cebolão, na Oeste, que
delimitam o trecho urbano do Tietê. Esses dois projetos
estão em fase preparatória.
E a água? Vai estar limpa? Bem, para essa pergunta,
até os técnicos titubeiam ao responder. “São
Paulo terá de decidir qual o Tietê que quer ter,
para então definir quanto terá de gastar”,
afirma o engenheiro do Departamento de Controle e Planejamento
do Projeto Tietê da Sabesp, Marcelo Rampone.
O rio que fornecia água para índios e os primeiros
portugueses que se atreveram a enfrentar a íngreme
Serra do Mar no século 16 morreu, asfixiado pela poluição.
Mas até 2020 poderá renascer um novo Tietê.
Com peixes, mas sem poder receber atividades de lazer que
tenham contato direto com a água, como a natação.
“Essa é uma visão bastante otimista do
problema que enfrentamos hoje”, diz Rampone.
O esgoto doméstico é a principal causa da poluição
do Tietê e de seus afluentes — 70%, de acordo
com a Sabesp. O restante é o chamado “material
difuso”, que inclui 320 toneladas diárias de
todo tipo de lixo jogado nas ruas e córregos e a fuligem
lançada na atmosfera.
Para a coordenadora do Núcleo União Pró-Tietê
da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro,
“enquanto não tivermos uma política de
educação ambiental realmente efetiva, o Tietê
jamais ficará limpo”. No primeiro ano das obras
de rebaixamento da calha, foram retirados 80 mil pneus do
rio. Haveria mais 40 mil. Desde 1992, a Sabesp tem o Projeto
Tietê, responsável por ampliar a coleta e o tratamento
de esgoto na Grande São Paulo. Até 2005, quando
termina a segunda fase, a coleta chegará a 84% (hoje,
são 79%) e o tratamento atingirá 70% (hoje,
62%). Rampone afirma ser necessária uma terceira etapa,
ao custo de mais US$ 1,5 bilhão para, até 2020,
atingir 90% de coleta e tratamento.
Dimas Marques,
do Diário de S.Paulo.
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