Vanessa Sayuri Nakasato
Veridiana Novaes
A Prefeitura de São Paulo
desativou duas “escolas de latinhas” da região
da Capela do Socorro, zona sul da cidade, com a promessa de
substituí-las por prédios de alvenaria. No entanto,
até agora, nada foi construído nesses lugares
e, mais de 500 crianças estão sem ir para a
aula.
As escolas de latinhas foram construídas
na gestão do ex-prefeito Celso Pitta e possuem esse
nome por serem feitas de madeira naval, isto é, placas
de zinco revestidas por fibra de vidro. Consideradas inadequadas
por serem muito quentes no verão, geladas no inverno
e não apresentarem devida segurança, eliminá-las
foi uma das prioridades estipuladas pela prefeita Marta Suplicy
(PT) em campanha eleitoral.
"É louvável que
se queira acabar com as escolas de latinhas a todo custo.
Mas o que não se pode fazer é extingui-las sem
que seja resolvido o problema da falta de vagas", afirma
o vereador Carlos Giannazi (PT), que comunicou o problema
à Secretaria Municipal da Educação e
acompanhou a vistoria do promotor do Ministério Público,
Vidal Serrano, em uma das escolas.
Segundo a coordenadora de Educação
da Subprefeitura da Capela do Socorro, Maria Terezinha Ferreira
Dias, todos os pais e professores da Escola Municipal Ensino
Infantil (EMEI) Milton Santos e Escola Municipal de Ensino
Fundamental (EMEF) Jardim Eliana foram avisados com antecedência
sobre as respectivas desativações. Ela ainda
afirma que a subprefeitura fez um planejamento minucioso com
a diretoria de ensino do Estado para que nenhuma criança
deixasse de ser redistribuída.
“Todos os pais assinaram autorização
para que seus filhos pudessem ser transferidos para a escola
mais próxima. E as desativações aconteceram
a pedido da própria comunidade”, disse. A coordenadora
ressaltou que, além de todos os estudantes terem sido
encaminhados, os alunos de até cinco anos que eram
da EMEI Milton Santos ainda vão para a escola de leva
e traz. “Essa história de que tem criança
fora da escola não procede”, rebateu.
Entretanto, não é essa
a versão da desempregada Roberta Kelly Santos. Ela
tem dois filhos e, o mais novo, que estudava na EMEI Milton
Santos, não tem para onde ir. “Os funcionários
foram transferidos, mas as crianças não”,
contou ela dizendo jamais ter recebido e assinado qualquer
documento de autorização de transferência.
Conforme ela, eram aproximadamente
640 alunos divididos em três períodos. Apenas
64 foram transferidos para o Centro Educacional Unificado
(CEU) Cidade Dutra, que fica a cinco quilômetros de
suas casas e sem transporte direto. “Quem ganhou uma
vaga tem que andar 10 minutos de ônibus, mais 15 minutos
a pé em ruas movimentadas e perigosas até para
adultos, como as avenidas Interlagos e Robert Kennedy”,
comentou.
Roberta trabalhava em um ferro velho,
mas com seu filho de quatro anos em casa, entrava mais tarde
e saía mais cedo do serviço. Resultado: acabou
sendo demitida. Esse não foi um fato isolado. Outras
mães com quem ela mantém contato estão
na mesma situação. Algumas, inclusive, são
chefes de família.
“Estamos todas desesperadas.
Temos que trabalhar e não temos onde deixar nossos
filhos. Além disso, nosso salário médio
é de R$ 240. Não dá para pagar R$ 80
de escola particular”, lamentou.
A EMEI Milton Santos já foi
demolida e, hoje, segundo moradores da região, aparenta
ser um terreno abandonado. Ao contrário da EMEF Jardim
Eliana, que tem sido ocupada por crianças e, principalmente,
jovens viciados em drogas.
“Como a escola está vazia,
muitas crianças vão para lá brincar.
Aqueles marginais não querem nem saber se tem criança
jogando bola do lado. Fumam maconha e cheiram cocaína
em plena luz do dia, sem medo ou vergonha de ninguém”,
revelou a dona de casa Ednéia Oliveira da Silva, vizinha
da escola e mãe de um menino de seis anos.
A subprefeitura garantiu que
daqui a três meses será iniciada a construção
de uma nova escola no lugar da EMEI Milton Santos. Quanto
a EMEF Jardim Eliana, será demolida em 15 dias, mas
ainda não há previsão de obras no local.
|