SÃO PAULO - Mais uma obra
viária causa polêmica na capital paulista. A
Secretaria Municipal de Transportes iniciou há 15 dias
a construção do Passa Rápido - sistema
que coloca os ônibus para circular do lado esquerdo
da avenida, com o ponto no meio fio, em faixa exclusiva -
e está cortando 35 árvores da avenida Ibirapuera.
Ao longo do percurso, outras 97 árvores
serão tiradas e replantadas em outras áreas.
Moradores da região já arrecadaram mais de 1.200
assinaturas num abaixo-assinado para tentar embargar a obra.
A OAB-SP está notificando a Prefeitura de São
Paulo para decidir que tipo de medida poderá tomar.
"As obras têm de respeitar
o meio ambiente natural. Um abaixo-assinado como este indica
que a população precisa ser ouvida. Essas pessoas
não iriam assinar um documento em vão",
diz o advogado Celso Fiorillo, membro da Comissão de
Meio-Ambiente da OAB-SP.
O diretor de Gestão da SP Trans
(São Paulo Transportes), José Evaldo Gonçalo,
disse que o ganho na velocidade dos veículos, com a
implantação do Passa Rápido, será
muito grande e não pode ser desconsiderado. Pelos cálculos
da secretaria, a velocidade média dos ônibus,
que atualmente é de apenas 10 quilômetros por
hora, poderá dobrar quando o corredor estiver pronto.
Isso, segundo o diretor da SP Trans, será um grande
benefício para toda a população.
"Quando o corredor foi instalado
na linha Pirituba/Lapa/centro o ganho foi enorme. As viagens,
que demoravam até 1h30m, foram reduzidas para 50 minutos",
afirmou.
Neste ano, segundo Gonçalo,
serão inaugurados mais 75 quilômetros de Passa
Rápido. Além da avenida Ibirapuera, o sistema
está previsto para ser instalado nas avenidas Rebouças,
Consolação, Francisco Morato, 9 de Julho e Santo
Amaro.
No caso das Avenidas Santo Amaro e
9 de Julho, a obra não sofre rejeição
dos moradores porque o corredor de ônibus já
implantado degradou o entorno há anos. Desta forma,
o Passa Rápido pode amenizar a situação.
Já em avenidas como Rebouças e Ibirapuera, a
preocupação dos moradores e comerciantes é
justamente que elas se degradem com as mudanças e a
retirada da pouca área verde existente.
"Ninguém quer mais uma
Avenida Santo Amaro aqui na região. As árvores
tornam o ambiente mais agradável e é isso que
valoriza o bairro. Não adianta tirar árvores
daqui e se comprometer a plantar noutro lugar", diz o
consultor de informática Fernando Grandjean, uma das
pessoas que iniciaram o abaixo-assinado contra a obra.
As obras do Passa Rápido da
avenida Ibirapuera custarão R$ 16 milhões aos
cofres públicos do município, incluindo R$ 1
milhão gastos com tecnologia (semáforos inteligentes,
por exemplo).
Gonçalo disse que a prefeitura
está conversando com várias entidades da região
do Ibirapuera desde o ano passado. Segundo ele, a prefeitura
se comprometeu, como forma de compensação, além
de transportar as 97 árvores, plantar 368 árvores
com até dois metros de altura na avenida. Outras 1.468
mudas serão entregues para serem plantadas em um parque
na zona sul, não necessariamente na área do
Ibirapuera, de onde as árvores serão arrancadas.
Segundo Gonçalo, o projeto
será mudado para não afetar uma seringueira
de mais anos, que fica em frente à igreja de Nossa
Senhora.
" Não se trata de preservar
apenas as seringueiras centenárias. São mais
de 50 árvores que serão arrancadas e queremos
evitar isso", diz Grandjean.
CLEIDE CARVALHO
WAGNER GOMES
do Globo Online
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