A Cetesb (agência ambiental
paulista) autuou ontem a Queiroz Galvão, construtora
da passagem subterrânea na esquina das avenidas Rebouças
e Brigadeiro Faria Lima (zona oeste de SP), por ter deixado
cerca de 3.000 m3 de resíduos de construção
serem carregados para o rio Pinheiros.
O volume estimado equivale a mais
de 50 caminhões cheios de terra, areia, pedras e outros
tipos de entulho. Boa parte do material está acumulada
diante do shopping Eldorado. O processo foi provavelmente
gradual, diz Antonio Rivas, gerente da agência em Pinheiros,
responsável pela área.
Rio Pinheiros
O túnel é uma das principais obras
da gestão Marta Suplicy (PT) e foi iniciado em janeiro.
Os resíduos, que ficaram desprotegidos,
foram, aos poucos, sendo levados pelas águas das chuvas,
das lavagens de ruas e do lençol subterrâneo,
que aflorou em trechos da construção. O material
foi jogado, então, dentro das galerias de águas
pluviais, que deságuam no rio Pinheiros.
Os resultados disso foram sentidos
na semana passada pela Emae (Empresa Metropolitana de Águas
e Energia), vinculada à Secretaria de Estado de Energia,
Recursos Hídricos e Saneamento e responsável
pela manutenção do Pinheiros. Os resíduos
do túnel da Rebouças estão reduzindo
a capacidade de vazão do rio --o que favorece enchentes--
e dificultando a navegação no seu leito.
A Emae costuma percorrer o Pinheiros
em barcos para fazer batimetrias (medições da
profundidade) por conta da operação da Usina
Elevatória da Traição, que bombeia o
Pinheiros para a represa Billings em caso de ameaça
de transbordamento do rio.
Para melhorar a capacidade de escoamento,
a empresa faz permanentemente o desassoreamento e a remoção
do lixo que chega ao leito do Pinheiros. Terra e resíduos
são prejudiciais também por obstruir as grades
de proteção do sistema de bombeamento das usinas
da Traição e Pedreira.
A partir do auto de advertência
de ontem, a Queiroz Galvão terá de retirar todo
o material que já está depositado no rio, parar
de deixar resíduos acumulados no canteiro de obras
e poderá ser obrigada ainda a instalar uma bacia de
sedimentação para evitar que o entulho volte
a ser levado para as galerias. Caso não realize e implante
tais medidas num prazo que a Cetesb avalie como justo --o
que vai depender das justificativas técnicas dadas--,
a empresa poderá ser multada.
A construção do túnel
não precisou passar por licenciamento ambiental por
não ter, teoricamente, impactos previstos nessa área.
"O que estamos exigindo não é nada mais
do que boas práticas de construção civil,
levando em consideração as dimensões
da obra e a sua localização numa área
extremamente impermeável, que favorece o escoamento
de resíduos para o rio", diz Rivas. Segundo ele,
as ações de remediação do problema
devem ser concluídas o mais rapidamente possível.
Outras polêmicas
O túnel na avenida Rebouças deve custar
R$ 97,4 milhões, depois de um aumento de 49,2% em relação
à previsão inicial de gastos da prefeitura.
Terá 1.163 m de extensão e 16 m de profundidade.
A previsão é que esteja
concluído no fim do ano e, desde que foi anunciado,
causou polêmicas e vem dificultando a vida dos paulistanos
que circulam e moram nas imediações da obra.
Por causa de interdições nas vias, os congestionamentos
aumentaram, e os desvios tornaram ruas antes calmas em locais
de tráfego intenso.
Especialistas também chegaram
a questionar os benefícios futuros da obra para otrânsito
da cidade.
MARIANA VIVEIROS
da Folha de S.Paulo
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