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Veridiana Novaes
Se o leitor não vai até
o livro, o livro vai até o leitor, literalmente. Com
o objetivo de levar o hábito da leitura à população
carente, um ônibus–biblioteca lotado de livros,
jornais e revistas percorre a periferia da capital paulista
atendendo, em média, 300 pessoas por dia.
No percurso estão oito bairros
que são visitados, semanalmente, incluindo sábados
e domingos. Jardim Miriam, Grajaú, Jardim Iguatemi
e Jardim Ângela são alguns deles. O roteiro é
fixo e a biblioteca ambulante estaciona em avenidas e praças
conhecidas onde a comunidade local pode pegar livros das 10
horas manhã até às 3 horas da tarde.
O serviço é coordenado
pela Biblioteca Municipal Monteiro Lobato e, segundo o diretor
da instituição, William Okubo, a idéia
surgiu em 1936, com o escritor Mário de Andrade. Um
carro Ford levava livros para a população e
ficava parado nas principais praças da cidade. O serviço
durou dez anos, mas acabou na época da ditadura militar.
Em 1989, o serviço voltou a ativa na gestão
de Luiza Erundina e, no lugar de carro, foram implantados
ônibus para levar o acervo cultural. Entre 1990 e 1993
foram atendidos 40 bairros paulistanos.
“Durante um período,
o serviço ficou um pouco abandonado. Quando os ônibus
quebravam, ficavam parados por um tempo. Em 2002, o serviço
foi reativado totalmente. Pequenas reformas foram feitas e
hoje são quatro veículos que se revezam diariamente
para que haja manutenção”, comenta Okubo.
A população tem a possibilidade
de estar em contato com um acervo de três mil livros.
São dispostos para empréstimo temas literários
voltados para crianças e adultos, didáticos
e paradidáticos. Entretanto, para a artesã Sandra
Peres Guarieiro Mendes, usuária do serviço,
a prefeitura deveria investir mais na compra de livros. “Faz
11 anos que eu uso o serviço e os livros continuam
os mesmos”.
O livro levado pelo ônibus-biblioteca,
às vezes, é a opção de lazer e
cultura em lugares que não tem biblioteca pública
ou outra opção de entretenimento. “O lazer
aqui no Jardim Iguatemi é ser assaltado”, ironiza
Sandra. No entanto, mesmo em lugares considerados perigosos,
a população respeita o veiculo e preza muito
pelo serviço. Até hoje, não houve nenhum
caso de depredação dos transportes ou maus tratos
aos funcionários do ônibus.
Além de empréstimo
de livro, escritores e contadores de história fazem
parte da programação do ônibus. “O
que pretendemos fazer com esses eventos é estimular
a leitura e, quem sabe, podemos até estar estimulando
a escrita”, disse Okubo.
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