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educação
10 /05/2004

Escola ensina cidadania nas ruas de São Paulo

Vanessa Sayuri Nakasato

A Escola Nossa Senhora das Graças, conhecida como Gracinha, do Itaim Bibi, promove aulas pouco convencionais aos seus alunos de primário. Ao invés de livros, quadro negro e quatro paredes, os professores levam as crianças para aprender história e geografia nas ruas e bairros da cidade, transformando São Paulo em um grande laboratório interdisciplinar. O objetivo é transmitir conhecimento a elas a partir de seus cotidianos.

A orientadora de 1ª a 4ª série, Ilda Fernandes Dias, afirma que a escola tem como método introduzir conteúdo partindo do micro para o macro. Ou seja, para a criança entender política, globalização ou mesmo história geral, é necessário que, antes de mais nada, ela compreenda o funcionamento e as relações mais simples do dia-a-dia.

Esse processo inicia-se já na 1ª série. Os alunos começam analisando o tempo, espaço físico, o eu e o outro na classe onde estudam, dentro da escola e na família. Na 2ª série, eles passam a estudar os bairros para, posteriormente, expandir para município, estados, país e mundo.

“No caso da 2ª série, eles estudam o nome e a história do Itaim Bibi, fazem uma ponte entre passado e presente, comparam fotos e discutem as mudanças ocorridas ao longo dos anos. Dessa forma, desenvolvem o raciocínio, o olhar paisagístico, urbanístico e social. Mais do que isso: aprendem a valorizar a memória do lugar onde vivem”.

As crianças saem às ruas entrevistando o comerciante, o policial, o jornaleiro, o quitandeiro. Anotam tudo: nome de rua, quantidade de árvores, se há lixeiras, iluminação, praças, ponto de ônibus e até placas com erros gramaticais.

“Nada passa despercebido. É interessante porque, embora a disciplina seja história e geografia, sem querer, eles acabam aprendendo matemática, português e até economia”, relata a orientadora.

Na educação moderna, até os pais recebem lição de casa. A jornalista Cristina Veiga, mãe de Pedro, aluno da 3ª série do Gracinha, conta ter reservado finais de semanas inteiros para ajudar o filho com os trabalhos da escola.

“Recebi um recado da professora pedindo que o levasse o para andar pelo bairro onde moramos. Ele teria que responder perguntas como as vantagens e desvantagens de morar na Vila Madalena, como é o transporte público e, depois, desenhar o mapa de tudo o que viu, com igreja, praça, comércio e tudo. São questões e atividades que, realmente, necessitam da ajuda dos pais”.

Para a jornalista, a percepção do filho de apenas 8 anos em relação à cidade a surpreende. Segundo ela, Pedro discute desde violência até a quantidade de cocôs de cachorro existente nas calçadas de São Paulo. “Acredito que a escola tradicional, por melhor que seja, não ensina a criança a ser cidadã”.

A secretária Analice Moura Ignácio, mãe de Frederico, também aluno da 3ª série, afirma que, além de questionar tudo, seu filho tem se interessado mais pela leitura. “Ao vivenciar o que estuda na escola, Fred fixa melhor o conteúdo. É como se tudo fizesse sentido a ele. E é isso, com certeza, que o tem feito sentir prazer pela aprendizagem”.

O conceito de transformar a cidade em extensão das salas de aula e envolver não só a família, como toda a comunidade no processo educacional da criança e do adolescente, chama-se bairro-escola. Trata-se de uma experiência cada vez mais testada por instituições públicas e privadas de diversos estados brasileiros. É, também, objeto de estudo de especialistas e foi debatido, inclusive, no Fórum Mundial da Educação, que aconteceu em São Paulo, em abril deste ano.

 
 
 

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