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Vanessa Sayuri Nakasato
A Escola Nossa Senhora das Graças,
conhecida como Gracinha, do Itaim Bibi, promove aulas pouco
convencionais aos seus alunos de primário. Ao invés
de livros, quadro negro e quatro paredes, os professores levam
as crianças para aprender história e geografia
nas ruas e bairros da cidade, transformando São Paulo
em um grande laboratório interdisciplinar. O objetivo
é transmitir conhecimento a elas a partir de seus cotidianos.
A orientadora de 1ª a 4ª
série, Ilda Fernandes Dias, afirma que a escola tem
como método introduzir conteúdo partindo do
micro para o macro. Ou seja, para a criança entender
política, globalização ou mesmo história
geral, é necessário que, antes de mais nada,
ela compreenda o funcionamento e as relações
mais simples do dia-a-dia.
Esse processo inicia-se já
na 1ª série. Os alunos começam analisando
o tempo, espaço físico, o eu e o outro na classe
onde estudam, dentro da escola e na família. Na 2ª
série, eles passam a estudar os bairros para, posteriormente,
expandir para município, estados, país e mundo.
“No caso da 2ª série,
eles estudam o nome e a história do Itaim Bibi, fazem
uma ponte entre passado e presente, comparam fotos e discutem
as mudanças ocorridas ao longo dos anos. Dessa forma,
desenvolvem o raciocínio, o olhar paisagístico,
urbanístico e social. Mais do que isso: aprendem a
valorizar a memória do lugar onde vivem”.
As crianças saem às
ruas entrevistando o comerciante, o policial, o jornaleiro,
o quitandeiro. Anotam tudo: nome de rua, quantidade de árvores,
se há lixeiras, iluminação, praças,
ponto de ônibus e até placas com erros gramaticais.
“Nada passa despercebido. É
interessante porque, embora a disciplina seja história
e geografia, sem querer, eles acabam aprendendo matemática,
português e até economia”, relata a orientadora.
Na educação moderna,
até os pais recebem lição de casa. A
jornalista Cristina Veiga, mãe de Pedro, aluno da 3ª
série do Gracinha, conta ter reservado finais de semanas
inteiros para ajudar o filho com os trabalhos da escola.
“Recebi um recado da professora
pedindo que o levasse o para andar pelo bairro onde moramos.
Ele teria que responder perguntas como as vantagens e desvantagens
de morar na Vila Madalena, como é o transporte público
e, depois, desenhar o mapa de tudo o que viu, com igreja,
praça, comércio e tudo. São questões
e atividades que, realmente, necessitam da ajuda dos pais”.
Para a jornalista, a percepção
do filho de apenas 8 anos em relação à
cidade a surpreende. Segundo ela, Pedro discute desde violência
até a quantidade de cocôs de cachorro existente
nas calçadas de São Paulo. “Acredito que
a escola tradicional, por melhor que seja, não ensina
a criança a ser cidadã”.
A secretária Analice
Moura Ignácio, mãe de Frederico, também
aluno da 3ª série, afirma que, além de
questionar tudo, seu filho tem se interessado mais pela leitura.
“Ao vivenciar o que estuda na escola, Fred fixa melhor
o conteúdo. É como se tudo fizesse sentido a
ele. E é isso, com certeza, que o tem feito sentir
prazer pela aprendizagem”.
O conceito de transformar a cidade em extensão das
salas de aula e envolver não só a família,
como toda a comunidade no processo educacional da criança
e do adolescente, chama-se bairro-escola. Trata-se de uma
experiência cada vez mais testada por instituições
públicas e privadas de diversos estados brasileiros.
É, também, objeto de estudo de especialistas
e foi debatido, inclusive, no Fórum Mundial da Educação,
que aconteceu em São Paulo, em abril deste ano.
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