|
Vanessa Sayuri Nakasato
Enquanto a Associação
de Moradores dos Jardins e a Subprefeitura de Pinheiros brigam
para saber quem está certa ou errada na questão
dos cortes de árvores, a população de
São Paulo assiste, de camarote, dezenas delas sendo
podadas e derrubadas na região da avenida
Paulista.
Incomodada em presenciarem mutilações de árvores
centenárias , a associação de moradores
instaurou, junto com o Ministério Público do
Meio Ambiente (MPMA), inquérito civil contra a prefeitura.
Segundo a advogada Célia Marcondes, moradora do bairro
e uma das responsáveis pelo processo, até a
sentença ser proferida, foi selado um trato em que,
para cada poda ou corte de árvore dos Jardins, a entidade
fosse consultada pela subprefeitura.
Embora o “acordo” entre
comunidade e administração municipal tenha sido
estabelecido há alguns meses, cada vez mais árvores
são cortadas na região. “A prefeitura
não está cumprindo com a parte que lhe cabe.
Muitas vezes, somos surpreendidos com os galhos
das árvores já no chão”.
A advogada conta que engenheiros agrônomos
e florestais, membros da associação, analisaram
as condições das árvores dos Jardins.
Constataram que quase todas as cortadas eram fortes e sadias
como grande parte da flora sobrevivente.
“É um absurdo serrarem
árvores lindas e robustas sem necessidade. Vivemos
em um dos bairros mais poluídos da cidade, onde a maioria
dos residentes é composta por idosos. Já fizeram
o favor de trocar trolebus por ônibus a diesel. Se extinguirem
as árvores que ainda nos garantem um pouco de ar e
vida, ficaremos ilhados entre ruas, carros e construções”.
Para a subprefeita de Pinheiros, Bia
Pardi, “essa história de que as árvores
estão em perfeitas condições é
a opinião deles [moradores]”. Conforme ela, a
prefeitura possui agrônomos competentes e altamente
qualificados, que fazem minuciosa análise antes de
autorizar os cortes.
“Não importa que apareçam
cinco outros engenheiros afirmando que as árvores estão
boas. Eles sempre vão dizer isso porque não
querem que elas sejam tiradas de suas ruas. Porém,
depois, se alguma delas cair em suas cabeças, a culpa
é nossa”, disse a subprefeita.
Além disso, Bia Pardi ainda
alega que o tal acordo não existe. “Isso é
um absurdo. Não há lei que ampare esse tipo
de trato. Enviamos um comunicado a essa associação
para evitar perturbações. Mas jamais pediríamos
o aval dela. É o perito da prefeitura quem decide se
corta a árvore ou não. Está na legislação
e nós a respeitamos”.
O promotor do MPMA, Carlos Sales,
afirma que o trato existe, mas não há nada formalizado
em documento. “Foi feito um acordo de cavalheiros”,
ressalta. Ele ainda explica que, segundo o combinado, a suprefeitura
comunicaria a associação antes de mexer em qualquer
árvore. Caso a entidade não concordasse, ambos
apresentariam seus respectivos argumentos e dialogariam em
busca de uma solução conjunta. “Na verdade,
o que ocorre é um meio termo”.
No momento, a associação
está fazendo um levantamento aerofotogramétrico
com a promotoria do MPMA. O objetivo é incluir no inquérito
quantas árvores tinham, quais eram e quantas restam.
Pretende-se, também, descobrir os autores dos cortes
para responsabilizá-los por danos ambientais e, posteriormente,
exigir reembolso em massa arbórea. Ainda não
há um número final do prejuízo, mas sabe-se,
por exemplo, que 14 tipuanas centenárias foram cortadas
na rua Oscar Freire e vizinhança.
A Associação dos Moradores
dos Jardins possui cerca de dois mil associados e é
uma das mais organizadas da capital paulista.
|