Veridiana Noves
Vanessa Sayuri Nakasato
A partir de maio, os motoboys vão
invadir as salas de aula de escolas públicas e particulares
da cidade de São Paulo. A exibição do
documentário “Motoboys_vida loca” marcou
o lançamento do projeto educativo “São
Paulo 450 Anos Luz 2004” em sessão exclusiva
para educadores na Praça Aprendiz das Letras, na Vila
Madalena, no último dia 28.
O documentário, premiado pelo
júri popular na 27ª Mostra Internacional de Cinema
de São Paulo, traz à tona a questão dos
motoboys e o que eles representam na complexa teia social
da capital paulista. O tema deixa margens para amplas discussões
sobre a cidade, o seu cotidiano e as possibilidades educativas
em torno do assunto, incorporando-o ao currículo formal
das escolas.
Segundo o roteirista do filme, Giuliano
Cedroni, os motoboys são um problema recente do município
que ninguém sabe como resolver. Dados da Companhia
de Engenharia e Tráfego (CET) mostram que acidentes
de motos matam dez vezes mais do que acidentes de carro. Estima-se
que, hoje, aproximadamente 300 mil motoboys circulem pela
cidade e pelo menos dois morram por dia. “Como são
computados apenas as pessoas que falecem no local do acidente,
as autoridades não sabem, ao certo, quantos motoboys
morrem trabalhando”, afirma Cedroni.
A idade média da maioria dos
motoboys é de 20 a 25 anos, e o salário varia
entre R$ 400 e R$ 1.500. O diretor do filme, Caíto
Ortiz, afirma que esse trabalho é a alternativa de
sobrevivência de muitas pessoas. “Existe aquele
estereótipo de que os motoboys são jovens irresponsáveis
que só atrapalham o trânsito. Eu também
tinha essa visão. Mas, durante as filmagens, descobri
que ser motoboy é a saída para muita gente que
acabou de perder o emprego, inclusive pais de família”.
Para Ortiz, discutir o assunto com
alunos será uma maneira de conscientizá-los
sobre a problemática da cidade. “São Paulo
é muito complexa. E no trânsito, todos têm
razão. São milhões de pessoas nas ruas
que não se falam. É essa falta de diálogo
que gera tanto transtorno. É importante expor aos jovens
todos os lados da questão”.
Segundo a coordenadora do projeto,
Minom Pinho, incluir o documentário Motoboys como opção
de trabalho nas escolas é uma forma de estimular, por
meio da cultura, estudantes e professores a utilizarem São
Paulo como instrumento de aprendizado.
O projeto “São Paulo
450 Anos Luz”, idealizado pelo jornalista Gilberto Dimenstein
e patrocinado pela Comgás, tem como objetivo principal
transformar a capital paulista em um eixo transversal e multidisciplinar
de educação. Inspirado no livro “São
Paulo 450 Anos Luz”, Editora de Cultura, guia do professor
e site (www.sp450anosluz.com.br), o projeto acontece, desde
de 2003, em dez escolas da cidade.
Além de exemplares do livro,
as escolas receberão cópia VHS do Motoboys_vida
loca para realização de sessões para
os alunos seguidas de debate. A ação se destaca
pelo uso da mídia cinematográfica como ferramenta
educativa para entender a cidade e seus contrastes.
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