A região do Jardim Ângela,
zona sul da capital, já era conhecida pela violência,
o desemprego, a falta de hospitais e suas favelas. Agora ganha
mais um título, desta vez numa tentativa justamente
de mudar essa cara. Desde ontem à noite, o bairro se
tornou sede do Fórum Social Sul - SP, uma reprodução
em pequena escala do Fórum Social Mundial, realizado
em Porto Alegre pela primeira vez em janeiro de 2001.
O evento de Porto Alegre era uma oposição
ao Fórum Econômico Mundial de Davos, que reúne
na Suíça os países ricos. Em 2004, o
fórum alternativo foi feito em Mumbai, na Índia,
mantendo o perfil de "encontro dos pobres".
Com o lema "Uma outra periferia
é possível, necessária e urgente",
o movimento do Jardim Ângela, que vai até sábado,
é a primeira iniciativa para lidar em pequena escala
com a pobreza tratada de forma global. O fórum é
organizado por 57 entidades dos bairros e municípios
do sul da capital e da Grande São Paulo.
"Precisamos colocar em prática
um novo jeito de governar", disse o padre Jaime Crowe,
59, da paróquia e Sociedade dos Santos Mártires,
um dos idealizadores do Fórum Social Sul - SP. O padre
trabalha há 35 anos na zona sul e está há
17 no Jardim Ângela.
Crowe conhece as 584 favelas da região,
algumas delas com índice de desemprego que chega a
60%. "Em algumas áreas há mais fome do
que nas Guaribas citadas pelo presidente Lula", disse.
Na saúde, há 0,33 leito por mil habitantes.
"A prefeita diz que o centro
é o cartão postal de uma cidade, mas as grandes
obras, como o metrô e o prédios de luxo, foram
construídos pela mão-de-obra barata da periferia",
afirmou Crowe.
A fala foi uma referência à
prefeita Marta Suplicy, que minutos antes tinha aberto o encontro
com 40 minutos de um discurso onde listava todas as obras
de seu governo. "Encontramos uma cidade cheia de dívidas
e não nos perguntamos onde foi parar esse dinheiro.
Há bastante para fazer, estamos fazendo o que é
possível e vamos fazer mais" disse ela com o entusiasmo
de um comício.
A região sul tem uma
tradição de movimentos organizados e de reivindicações.
Ontem, cerca de 1.500 pessoas-segundo os organizadores- se
juntavam debaixo de grandes tendas brancas para acompanhar
a abertura do fórum.
AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo |