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O tucano José Serra, presidente
nacional do PSDB, decidiu que será candidato à
sucessão de Marta Suplicy (PT) em São Paulo.
O anúncio de que irá concorrer à prefeitura
deve ser feito até o final da semana, provavelmente
na quinta-feira. Ontem, o tucano disse a correligionários
que "tudo caminha nesse sentido", segundo a Folha
apurou.
Uma vez anunciada, a decisão anula automaticamente
a pré-convenção entre os outros quatro
nomes tucanos, prevista para domingo. Nela, o atual secretário
de Segurança Pública do Estado, Saulo de Castro
Abreu Filho, era o favorito para sair vitorioso.
Derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo
turno da eleição presidencial de 2002, Serra
é o único nome de consenso entre os tucanos,
diante de quem os demais pré-candidatos abrirão
mão da disputa pela prefeitura.
Nas últimas semanas, Serra conversou com vários
aliados e amigos, analisou
pesquisas eleitorais encomendadas pelo PSDB e pesou prós
e contras, levando em conta tanto o mapa de pré-candidatos
como a conjuntura política.
A divulgação -na sexta-feira pelo "Jornal
Nacional" e no fim de semana pela revista "Veja"-
de novos documentos que evidenciam a existência de contas
bancárias no exterior em nome do ex-prefeito Paulo
Maluf tem influência sobre a definição
de Serra.
O enfraquecimento político do pré-candidato
do PP tende a transformar o tucano no principal adversário
de Marta, que tenta a reeleição. Segundo a última
pesquisa do Datafolha, do final de março, Maluf aparece
com 24%, Serra, com 22%, e Marta, com 17% -dentro de uma margem
de erro de três pontos percentuais.
Mesmo que Maluf se mantenha na disputa, como vem dizendo nos
últimos dias a correligionários, avalia-se entre
tucanos e petistas que sua candidatura não resistirá
à exposição na mídia.
A presença de Serra altera o xadrez das candidaturas
e das alianças partidárias (leia texto abaixo),
além de conferir um peso político ainda mais
decisivo à disputa pela maior capital do país.
A tendência de que a eleição paulistana
seja um plebiscito a respeito do governo Lula cresce muito.
Parte da demora do tucano a admitir sua candidatura se devia
justamente ao fato de que tanto o governo do Estado como a
própria Presidência estavam entre seus planos
políticos para 2006. Sua decisão de concorrer
agora adia -ou congela por ora- essas duas possibilidades.
Pressão de Alckmin
O timing da definição de Serra foi
precipitado pela pressão do governador Geraldo Alckmin,
que insistiu, à revelia do presidente do PSDB, em manter
a pré-convenção para este domingo.
Ontem, no início da tarde, Alckmin disse à Folha
que a única maneira de a pré-convenção
não ocorrer seria Serra anunciar antes disso que será
o candidato.
"Nós esperamos até o final da semana uma
fumaça branca. Evidente que, se houver um entendimento
até lá em torno de um único pré-candidato,
não há necessidade de fazer pré-convenção,
vai direto para a convenção", disse Alckmin.
Na noite de anteontem, o governador esteve reunido com o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso e o secretário da Casa Civil,
Arnaldo Madeira, para tratar da eleição em São
Paulo.
Indagado se Serra já o teria procurado para dizer se
pretende ser candidato, o governador declarou: "Só
o [ex-]senador pode responder. Serra não é o
nome só do PSDB. Acho que a população
o quer. É um nome nacional, uma pessoa extremamente
qualificada, com força eleitoral".
A realização da pré-convenção
havia sido bombardeada principalmente por deputados ligados
ao presidente do PSDB. A data de domingo acabou colocando
um prazo para que o ex-ministro se definisse antes do que
queria.
Ficam, porém, algumas arestas a serem aparadas. Os
tucanos que se colocaram na disputa -os deputados federais
Walter Feldman e Zulaiê Cobra e o ex-presidente do PSDB
José Aníbal- questionam a forma como o governador
de São Paulo conduziu o processo e trabalhou a favor
de Saulo.
Serra já disputou a Prefeitura de São Paulo
duas vezes. Em 1988, o tucano ficou em quarto lugar, com 290.815
votos, atrás de Luiza Erundina, que se elegeu pelo
PT, de Paulo Maluf (então no PPB), e de João
Leiva (PMDB). Em 1996, deixou o Ministério do Planejamento
do governo FHC para concorrer de novo. Ficou em terceiro lugar,
atrás de Luiz Erundina (PT) e de Celso Pitta (pelo
então PPB), que se elegeu apoiado por Maluf.
FERNANDO DE BARROS E SILVA
JULIA DUAILIBI
da Folha de S.Paulo
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